Muito antes da queda do asteroide que encerrou seu reinado há 65 milhões de anos, os dinossauros já estavam em declínio, vítimas do esfriamento do clima do planeta - revela um estudo publicado nesta terça-feira (29).
A responsabilidade de um meteorito em seu desaparecimento tem sido consenso na comunidade científica desde a descoberta da gigantesca cratera de impacto, em 1980, no México.
A colisão causou tamanha onda de choque que a Terra foi envolvida por uma nuvem de poeira e gás, perturbando o clima e varrendo permanentemente do mapa três quartos das espécies do planeta, incluindo os dinossauros não-aviários.
Mas os paleontólogos ainda debatem se essa extinção em massa ocorreu de forma abrupta, ou se o meteorito apenas desferiu o golpe final em um grupo que já passava por dificuldades.
"É um debate espinhoso", disse à AFP o biólogo Fabien Condamine, autor do estudo publicado na Nature Communications.
Porque os dados não são robustos o suficiente para validar uma hipótese em vez de outra: "o registro fóssil (ossos de dinossauros) está incompleto, em mau estado de conservação, certas áreas geográficas como os trópicos estão mal representadas, períodos de tempo têm mais informações que outros.", diz o pesquisador do CNRS no Instituto de Ciência Evolutiva de Montpellier.
Para corrigir esses vieses, uma equipe formada por pesquisadores franceses, britânicos e canadenses utilizaram um novo método de modelagem estatística, denominado Bayesian, que calcula as probabilidades das causas, com base na observação de elementos conhecidos.
Eles selecionaram 1.600 fósseis pertencentes a seis famílias de dinossauros, incluindo os icônicos tiranossauros, triceratops e hadrossauros, popularizados pelo filme "Jurassic Park".
Três famílias de herbívoros, três de carnívoros, envolvendo 247 espécies. A cada fóssil foi atribuído um código permitindo rastrear os sucessivos diagnósticos feitos pelos cientistas desde sua descoberta.
Graças ao modelo, os pesquisadores puderam estimar uma idade de aparecimento e extinção para cada espécie, em um período que varia de 145 milhões de anos, no final do Cretáceo, a 66 milhões de anos, pouco antes da catástrofe.
Resultado: "vemos um pico na diversidade antes de 76 milhões de anos atrás, com um alto índice de criação de novas espécies. Depois, um declínio lento", explica Fabien Condamine.
Assim, ao longo de um período colossal de 10 milhões de anos - muito mais do que o reinado do gênero Homo - o número de espécies de dinossauros diminui, de cerca de 50 para menos de 20 há 66 milhões de anos.
Os pesquisadores compararam essas estatísticas com dados ambientais (climáticos, marinhos, geológicos, etc.) já conhecidos e indiscutíveis.
Os resultados mostraram uma correlação perfeita com as curvas climáticas: "À medida que a taxa de desaparecimento das espécies aumenta, as temperaturas caem", analisa o especialista em macroevolução.
Este grande resfriamento, que fez com que a Terra perdesse de 7 a 8 graus, começa ao mesmo tempo que o declínio dos dinossauros.
"Na época, era muito mais quente, havia palmeiras e florestas no estreito de Bering", entre a Sibéria e o atual Alasca, explica Fabien Condamine.
Os dinossauros não eram, porém, capazes de produzir seu próprio calor corporal, como os humanos. Eles dependiam muito de seu ambiente para alimentação, movimento, reprodução... Seu metabolismo, portanto, não teria sido capaz de se adaptar às mudanças.
Outra variável importante: os primeiros desaparecimentos afetaram os herbívoros, cerca de dois milhões de anos antes dos carnívoros.
O desaparecimento dos herbívoros, presas dos carnívoros, teria desequilibrado os ecossistemas e levado à extinção em cascata de outras famílias de dinossauros, sugere o estudo.
É neste contexto que um meteorito de 12 km de diâmetro atingiu a Terra. Já enfraquecido, o reinado dos gigantes não conseguiu se recuperar desse cataclismo, ao contrário de alguns pequenos mamíferos.