Os neandertais tinham um sistema auditivo tão aguçado quanto o homo sapiens, o que poderia representar uma prova adicional de que possuíam uma capacidade de comunicação tão eficaz quanto os humanos modernos, segundo um estudo publicado na revista Nature Ecology and Evolution, nesta segunda-feira (1°).
Embora alguns especialistas defendam a ideia de que somente o homo sapiens desenvolveu a capacidade de conceber símbolos e de comunicá-los através da linguagem, a professora Mercedes Conde-Valverde, da Universidade espanhola de Alcalá e responsável pelo estudo, lembrou que a ciência fornece cada vez mais provas de "comportamentos complexos dos neandertais".
Estudos comprovaram que esta espécie que desapareceu há cerca de 40 mil anos enterrava seus mortos, sabia ornamentar os corpos e fabricar instrumentos sofisticados.
Para saber se os neandertais poderiam ter uma linguagem, foi preciso determinar se podiam simbolizar conceitos e se tinham a capacidade anatômica necessária para expressá-los. Para isso, reconstituíram virtualmente os canais auditivos externos e médios de cinco espécimes que viveram entre 130 mil e 45 mil anos atrás.
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Depois, mediram sua capacidade para captar sons e sua faixa de frequência, já que "quanto mais ampla for, mais variados são os sons e mais eficaz a comunicação", disse à AFP Conde-Valverde, especialista em bioacústica.
Por fim, compararam todos esses valores com dois grupos de humanos modernos e de especímes dos primeiros ancestrais dos neandertais encontrados no Abismo dos Ossos, no norte da Espanha, e fechados há 430.000 anos.
Sua conclusão é de que esta espécie tem as mesmas capacidades auditivas que o homo sapiens, especialmente a de perceber sons de frequência mais alta do que seus ancestrais.
As altas frequências estão relacionadas com a produção de consoantes, uma característica importante da linguagem humana, que a diferencia do modo de comunicação dos chimpanzés e de quase todos os mamíferos.
O estudo destaca que as consonantes são "especialmente importantes para determinar o sentido das palavras". Deduz também que se o ouvido do neandertal se desenvolveu para captá-las, é porque sabia reproduzi-las e aponta para a existência de um "sistema de comunicação vocal tão complexo e eficaz como a linguagem humana".
Segundo Conde-Valverde, o neandertal "era capaz de transmitir uma informação oral rapidamente e com um índice de erro muito baixo". Ela acredita inclusive que "se escutássemos dois neandertais conversarem atrás de uma cortina sem poder vê-los, pensaríamos que seriam duas pessoas de outro país que falam um idioma estrangeiro".
Antoine Balzeau, paleontropologista do Museu Nacional de História Natural de Paris, considerou o estudo "interessante" e, como seus próprios autores, propôs "comparar esses resultados com os de antigos homo sapiens."
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