As abelhas são muitas vezes associadas pela produção de mel a partir do néctar das flores, mas a importância destes insetos vai muito além disso. Elas são essenciais para a manutenção da biodiversidade e para a produção de alimentos na natureza.
Por conta de todo esse valor ecológico, em 3 de outubro é comemorado o Dia Nacional das Abelhas. Ao redor do mundo são mais de 20 mil espécies e, só no Brasil, o país com maior biodiversidade delas, são cerca de 300 espécies.
Esses insetos são divididos em dois tipos pelos especialistas: com ferrão (Apis mellifera) e sem ferrão (meliponíneos), se reunindo em colônias para organizar e realizar atividades de suma importância para o desenvolvimento das suas espécies.
Dentro das colônias podem ser encontradas as abelhas operárias, responsáveis pela limpeza, manutenção e proteção das colmeias, e também pelas ações de coleta e transporte de água e pólen. Além delas há também os zangões, machos responsáveis pela fecundação da abelha-rainha.
“A função da rainha é colocar ovos para que a colônia se desenvolva e também manter a ordem social, fazendo com que as operárias façam os trabalhos dentro e fora das colmeias. Ela é quem manda na colônia”, destaca André Sezerino, engenheiro agrônomo e especialista em apicultura, em relação às atividades realizadas pela abelha-mestra.
Quando se pensa nos insetos com ferrão, apenas as operárias aplicam ferroadas fora das colônias. As rainhas usam o ferrão apenas em brigas entre elas e também para botar os ovos, e os zangões não têm ferrão por realizarem apenas ações reprodutivas.
O especialista ressalta que podem haver até 90 mil abelhas dentro de uma colmeia nos períodos de safra e de maior atividade, mas que esse número tende a diminuir no inverno por conta da escassez de alimentos.
Todas as abelhas têm como principal função na natureza a realização da polinização das flores, atividade que é base para a reprodução das plantas e manutenção da sua variabilidade genética.
“As pessoas acham que o maior serviço da abelha é produzir mel, quando, na verdade, a maior função delas é realizar a polinização. Mais de 80% das árvores tropicais necessitam de polinização cruzada para sobreviver”, afirma André Sezerino, engenheiro agrônomo e especialista em apicultura.
A polinização consiste em transportar os grãos pólen de uma flor para estruturas presentes na própria planta, sendo chamada de autopolinização, ou levando esses elementos reprodutores para uma outra flor, conhecida como polinização cruzada.
De acordo com o pesquisador da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), as abelhas e vespas praticam a polinização conhecida como melitofilia.
“Se a gente pensar na agricultura, estima-se que 70% dos alimentos que a gente consome dependem da ação polinizadora das abelhas para serem produzidos. A maçã, por exemplo, depende 90% das abelhas para serem produzidas”, enfatiza Sezerino. O engenheiro completa afirmando que, se colocadas nas lavouras de soja, as abelhas podem representar um aumento de 20% a 80% na produção.
Além da sua contribuição direta para o meio ambiente por meio da polinização, as abelhas podem também ser muito importantes para análises de degradação e poluição ambiental.
De acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), esses insetos viajam e têm contato com as plantas, o solo, a água e o ar durante as suas viagens. Por conta disso, partículas poluidoras podem ficar armazenadas no seu organismo e a análise delas pode mostrar se o local por onde as abelhas passaram está com altos índices de poluição atmosférica.
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A importância das abelhas em relação à degradação ambiental refere-se a algumas espécies endêmicas, que podem ser encontradas em apenas uma região, dependerem de características naturais muito específicas para sobreviver. Quando algum fator nesse ecossistema é alterado, esses insetos podem ser muito afetados.
“Uma abelha no sul do Brasil, chamada guaraipo, tem preferência por uma espécie de planta chamada canela, que possui um diâmetro do tronco acima de 20 centímetros. Com o desmatamento, tem sido cada vez mais difícil encontrar essas árvores, logo, os enxames estão com dificuldades para fazer os ninhos e a população desta espécie vai diminuindo com o tempo”, ressalta André.
Os agrotóxicos são produtos químicos utilizados para combater doenças e pragas que podem afetar a produção agrícola. Contudo, assim como podem ser muito prejudiciais para agricultores e pessoas que consomem posteriormente os alimentos, essas substâncias também afetam de maneira negativa as abelhas.
“Existem algumas moléculas descobertas recentemente nos inseticidas que são extremamente tóxicas para as abelhas, onde elas nem precisam ter contato com quantidades muito grandes para terem problemas que podem levar à morte”, destaca o especialista em apicultura com ênfase em polinização dirigida para a fruticultura.
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O pesquisador ressalta ainda que os agrotóxicos podem ter efeito subletais nestes insetos. As abelhas informam a localização de pólen e água para suas companheiras por meio de uma espécie de dança feita nas colônias. Entretanto, o contato delas com pesticidas, por exemplo, pode levá-las a fazer essa dança de forma errônea, atrapalhando o trabalho de toda uma colônia ao indicar locais errados para a obtenção de água e comida.
“Quando elas vão para esses lugares, parte da energia que usam para voltar à colmeia vem do néctar que ela coleta da flor. Então, se elas vão até lá e não tem uma flor, muitas vezes elas morrem pelo caminho”, afirma Sezerino.
Outro fator que pode atrapalhar as atividades das abelhas são as mudanças climáticas. Muitas espécies de abelhas são caracterizadas pela sua adaptação a um ambiente específico, tornando-se endêmica.
Aumento da temperatura e escassez de água são duas alterações ambientais que afetam muito a vida destes insetos e, a partir do momento que as mudanças climáticas são aceleradas, eles não conseguem acompanhar o ritmo e acabam morrendo.
“Tem uma frase atribuída ao Albert Einstein onde ele fala que ‘sem as abelhas, em 4 anos a humanidade desapareceria’. 70% do que a gente come depende das abelhas, se acabarem as abelhas, acaba também grande parte da nossa comida. Então seria questão de tempo para a humanidade entrar em colapso”, afirma André Sezerino.
*Estagiário do R7 sob supervisão de Pablo Marques
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