Era uma noite de sexta-feira, dia 14 de maio, quando a mineira Lorrane Olivlet, 26 anos, observou quatro pontos pequeninos, similares a um pixel ou uma partícula de poeira, passando pela tela do computador. No dia seguinte, ela foi informada pela Nasa, a agência espacial norte-americana, de que havia descoberto não apenas um, mas quatro asteroides vagando pelo espaço.
No início deste ano, Lorrane se inscreveu, junto a seu grupo de estudo — o InSpace, fundado por ela própria —, no IASC (International Astronomic Search Colloraboration), um programa de ciência cidadã da Nasa. O objetivo é contar com a colaboração de cientistas amadores do mundo todo para fazer descobertas astronômicas e, assim, otimizar o trabalho da agência espacial.
"O primeiro contato que tive com o IASC foi há cerca de quatro anos, quando fiquei sabendo de uma brasileira que participou do programa e descobriu alguns asteroides. No ano passado, vi que o Brasil havia feito uma parceria com o projeto, mas quando fui pesquisar, as inscrições já tinham sido encerradas", afirma.
"No final daquele mesmo ano, então, combinei com o meu grupo que iríamos participar e montamos duas equipes. Logo que as inscrições foram abertas, fomos correndo para o site da Nasa", completa.
Os estudantes, todos de estados e universidades diferentes, receberam a missão de encontrar asteroides de forma remota por meio do software Astrometrica. A ferramenta simula o Sistema Solar e é focada em medições de astros menores, tais como asteroides, cometas e planetas anões.
Para aprender a lidar com o software, os jovens receberam um breve treinamento e, logo em seguida, já partiram para a empreitada. O trabalho consistia em analisar imagens obtidas pelo satélite Pan-STARRS, situado no monte Halekala, no Havaí.
"Tínhamos que atentar para características como forma arredondada, magnitude (brilho aparente) e trajetória em linha reta. Se tudo estivesse de acordo, isso era um indicativo de que poderia ser um asteroide", diz.
"Não é um processo exatamente difícil, mas exige muita dedicação e, sobretudo, um olhar atento. Teve asteroides que eu quase deixei passar. Eles aparentam ser minúsculos, como se fosse um pixel no meio de uma tela toda escura", completa.
Após a detecção de um possível asteroide, o próximo passo era a produção de um relatório, a ser enviado à Nasa para confirmar ou descartar a descoberta. A jovem teve muitas tentativas frustradas, mas não desistiu.
Finalmente, então, no dia 15 de maio deste ano, veio a notícia que Lorrane tanto esperava. Assim que acordou, ainda meio sonolenta, ela se deparou com seu nome e foto expostos nos canais oficiais da agência espacial.
"Eu fiquei muito animada. Não sei se as pessoas de fora têm a mesma visão, mas para quem gosta de astronomia, é muito interessante. Foi uma emoção muito grande", afirma. "Naquele mesmo dia, tirei uma foto segurando a imagem dos asteroides e fiz um post no Twitter. Contei um pouco sobre a descoberta, a confirmação da Nasa e mencionei que no futuro, teria a oportunidade de nomeá-los."
A jovem pensa em batizar três dos asteroides com o nome das pessoas mais próximas a ela: a mãe, o pai e o namorado. Já para decidir o nome do quarto astro, ela pretende abrir para voto popular em uma enquete nas redes sociais.
Segundo Lorrane, poder nomear um corpo celeste é um feito grandioso, uma vez que a UAI (União Astronômica Internacional) é bastante burocrática quanto a essa questão. A oportunidade é concedida a todos aqueles que realizam descobertas por meio do IASC, como forma de incentivar o trabalho de cidadãos comuns e astronômos amadores.
Foi um livro infantil sobre o Sistema Solar que despertou na jovem a paixão pela astronomia, ainda muito cedo, aos quatro anos de idade. O primeiro contato mais direto com o assunto, no entanto, ocorreu no primeiro semestre da faculdade, quando cursava Engenharia Biomédica na Universidade FUMEC, em Belo Horizonte, onde se formou.
Na instituição de ensino, Lorrane conheceu o grupo Passaporte da Astronomia, no qual estudantes, em sua maioria do curso de Engenharia Aeronáutica, se reuniam frequentemente para debater o assunto e realizar uma série de atividades. A partir desse projeto, nasceu também o InSpace, que possibilitou a parceria com a Nasa e a descoberta dos asteroides.
"Quando eu estava na faculdade, recebia muitas mensagens de pessoas demonstrando interesse em participar de algum projeto do gênero e dizendo que na cidade delas não tinha. Então, eu pensei: ‘por que não criar um grupo?", afirma.
"Logo na primeira vez que lancei essa ideia, surgiram mais interessados do que vagas disponíveis. Cheguei a fazer três seletivas e recebia mensagens constantes de pessoas querendo participar", completa.
Além dos dois projetos, a jovem também tem um livro publicado, Meu Primeiro Contato com o Céu, que aborda conceitos básicos da astronomia como planetas, asteroides e outros. O objetivo é ajudar aqueles que, como o título sugere, querem um primeiro contato com esse mundo tão fascinante.
A partir das vendas, Lorrane espera conseguir juntar dinheiro para embarcar em sua próxima aventura: o SpaceCamp, um minicurso da Nasa a ser realizado ainda este ano. Ela também lançou uma vaquinha online, em que interessados podem contribuir com qualquer valor.
*Estagiária do R7 sob supervisão de Pablo Marques