Com apenas dois anos de idade, a alagoana Nicole Oliveira mal sabia falar, mas já conhecia palavras suficientes para fazer um pedido um tanto inusitado: "Mamãe, eu quero uma estrela". A mãe, Zilma Jacaná, não entendia e a presenteava com estrelas de brinquedo.
Levou cerca de três anos para ela perceber que Nicolinha, como a menina é conhecida por todos, queria uma estrela de verdade, daquelas que brilham no céu durante a noite e estão a anos-luz de distância da Terra. O planeta Saturno também a encanta, mas ela conta que prefere estudar os asteroides.
"Eu fiz uma palestra sobre o asteroide Bennu e, desde então, passei a estudar e me interessar por vários outros asteroides", afirma Nicole, hoje com oito anos. "Gosto de todos os astros, mas acho os asteroides particularmente fascinantes."
Não por acaso, desde o ano passado, Nicolinha contribui com o Caça Asteroides, um programa de ciência cidadã da Nasa, a agência espacial norte-americana, por meio do qual achou sete astros do tipo vagando pelo espaço com a ajuda de um software.
Ela também tem um canal no YouTube sobre astronomia, é fundadora de um curso online sobre o assunto e a sócia mais jovem do CEAAL (Centro de Estudos Astronômicos de Alagoas), uma instituição que reúne astrônomos amadores de todo o Brasil.
Aos 5 anos, Nicole manifestou o primeiro interesse em realizar um curso sobre astronomia e começou a procurar na internet até encontrar o CEAAL. Em um primeiro momento, o presidente da instituição informou que, devido à idade, ela não poderia participar — mas isso não a fez desistir.
"Ela insistiu e, quando completou seis anos, ganhou a oportunidade de participar do curso", diz Zilma. Assistiu a todas as aulas, fez a prova, passou e se tornou a sócia mais nova da instituição."
O feito chamou a atenção e a menina passou a ser convidada para ministrar palestras em escolas de Maceió, sua cidade natal, e no próprio CEAAL. Com a chegada da pandemia, no entanto, as atividades presenciais foram suspensas e a agitada rotina foi substituída por dias longos e enfadonhos.
Nicolinha, claro, ficou chateada com a situação, mas não se deixou abalar e "transformou a tristeza em oportunidade", nas palavras da mãe. Foi naquele momento que surgiu a ideia de criar o canal no YouTube As Observações de Nicolinha e o clube online Nicolinha&Kids, que com dois meses de criação, já reúne 45 crianças.
"Eu comecei a procurar na internet e vi que não havia nenhum canal no YouTube voltado para crianças", afirma Nicole. "Tanto no canal quanto no clube, eu falo sobre tudo que envolve astronomia e trago professores para participar."
Tudo começou com um grupo no WhatsApp junto com outras três amigas que também se interessam por astronomia. Em um determinado momento, muitas crianças começaram a entrar na comunidade e, a pedido de Nicolinha, Zilma criou um perfil no Instagram para o clube e para o canal no YouTube.
Atualmente, o perfil no Instagram tem 6 mil seguidores e o canal conta com mais de mil inscritos. A mãe e o pai de Nicole são os responsáveis pela edição dos vídeos, mas é a filha quem prepara todo o material e entra em contato com os especialistas para convidá-los a participar.
Em meio a uma rotina atípica para uma criança de oito anos, Nicole consegue ainda conciliar os diversos projetos e a escola, que, segundo Zilma, é e sempre será a prioridade da menina.
Uma única vez, ela foi dispensada da aula para realizar um grande feito: palestrar no 1º Seminário Internacional de Astronomia e Aeronáutica do MCTI (Ministério da Ciência, da Tecnologia e das Inovações), realizado virtualmente em junho deste ano.
Apesar de muito nova, ela reconhece a importância dos estudos e sabe exatamente qual caminho seguir quando se formar no Ensino Médio, daqui a muitos anos. Curiosamente, seu grande sonho não é ser uma astronauta.
"Viajar ao espaço deve ser incrível, mas, ainda assim, prefiro ficar aqui embaixo (risos)", diz Nicolinha. "Quero me tornar engenheira aeroespacial e construir foguetes para levar astronautas em importantes missões espaciais."
*Estagiária do R7 sob supervisão de Pablo Marques
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