30/04/2018

Empresas chinesas estão extraindo dados do cérebro de funcionários

Equipamento sem fio é inserido em bonés e capacetes de segurança
Equipamento sem fio é inserido em bonés e capacetes de segurança Flickr/Chris/CC-BY-SA-2.0

Ficou chocado com o vazamento massivo de dados do Facebook? Na China o governo tem um projeto muito mais assustador em funcionamento. A ideia é extrair dados diretamente dos cérebros de funcionários de fábricas, trabalhadores do setor de transporte e militares.

O equipamento sem fio é inserido em um boné ou capacete, que lê ondas cerebrais logo depois transmitidas para computadores. Um algoritmo processa os dados e identifica mudanças de humor em funcionários. Depressão, raiva, estresse e picos de felicidade são algumas delas.

Segundo empresas, os dados são usados para ajustar o fluxo de produção industrial e planejar possíveis mudanças no ritmo de trabalho.

A revelação foi feita pelo jornal South China Morning Post, que afirmou que empresas como a State Grid Zhejiang Electric Power (do setor de energia elétrica) dizem ter aumentado seus lucros em cerca de R$ 1 bilhão (US$ 315 milhões) desde a adoção dos equipamentos, no fim de 2014.

A tecnologia de detecção de ondas cerebrais é conhecida e utilizada no mundo todo, mas empresários chineses se tornaram seus consumidores mais vorazes. O governo apoia a iniciativa e militares e condutores de transporte público também são monitorados.

Em outros casos menos chamativos, gerentes a utilizam para criar cenários de treinamento. Com a ajuda de headsets de realidade virtual, é possível diminuir bastante os erros de trabalhadores.

Um funcionário pode afetar uma empresa inteira

Acadêmicos que desenvolvem as ferramentas defendem a prática. Jin Jia, professor associado de neurociência e psicologia cognitiva na escola de negócios da Universidade de Ningbo, afirma ao jornal que um executivo muito emocional pode afetar toda uma cadeia de produção.

A ideia é justamente detectar e tentar prever esse tipo de comportamento.

— Quando o sistema emite um aviso, o superior pede que o funcionário tire um dia de folga ou mude para um posto menos crítico. Alguns trabalhos exigem alta concentração — afirma Jia.

Apesar dos protestos de trabalhadores no início, que pensavam que os aparelhos poderiam ler suas mentes, a ideia aos poucos foi aceita. Pelo fato do dispositivo estar escondido num capacete, eles acabaram se acostumando a utilizá-lo.

Jin afirma que a tecnologia chinesa do tipo está em pé de igualdade com o melhor fabricado no Ocidente, mas como é utilizada massivamente, gera muito mais dados para governos e empresários.

Nos Estados Unidos, segundo o South China Morning Post, apenas arqueiros que tentam melhorar seu desempenho esportivo, utilizam a tecnologia nesse sentido.

Embora os desenvolvedores dos dispositivos estejam otimistas quanto a seu futuro — alguns falam em formas de controlar equipamentos industriais através do cérebro, ou ajudar médicos e pilotos e evitarem erros graves — outros pesquisadores expressam preocupação.

"Muito pior que Facebook"

Qiao Zhian, professor de psicologia gerencial na Universidade Normal de Pequim, afirma que a tecnologia pode levar a uma onda sem precedentes de violação de privacidade.

— Não há lei ou regulamento para limitar o uso desse tipo de equipamento na China. O empregador pode ter um forte incentivo para usar a tecnologia para obter maior lucro, e os funcionários geralmente estão em uma posição muito fraca para dizer não — , disse ele ao jornal.

— A venda de dados do Facebook é muito ruim. A vigilância cerebral pode levar ao abuso de privacidade a um nível totalmente novo — completa, dizendo que a "mente humana não deve ser explorada para o lucro".

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