Por Juliana Bernardo
“Buscamos nos cercar de pessoas parecidas e acabamos criando produtos e serviços para um mesmo grupo, deixando de ter uma amostra real da oportunidade. Inclusão e diversidade não tratam apenas de uma questão social”. Essa frase resume bem a visão da Izabella Neves, Innovation & New Business Specialist na B3, sobre a relação entre diversidade e inovação. A B3 é uma das principais empresas de infraestrutura do mercado financeiro e, nos vários eventos em que a Izabella participa, ela vem desenvolvendo um olhar muito especial sobre esse tema. Vamos conferir?
Juliana Bernardo: De onde veio o seu interesse pelo tema diversidade na inovação e nos negócios?
Izabella Neves: Ao atuar com inovação no mercado financeiro e estar inserida em diversos ecossistemas, existe em mim um incômodo muito grande. Na grande maioria das palestras, eventos e reuniões, existe um grupo homogêneo presente: homens, brancos e na grande maioria héteros, usando camisa brancas com calças azuis. E quando questiono aos organizadores ou responsáveis, percebo duas respostas: a primeira é uma dificuldade em como atrair um público diverso e a segunda, que a inclusão remete a uma questão de caridade, sustentabilidade ou até mesmo áreas sobre responsabilidade social dentro das organizações.
Com base nesse contexto, introduzo o conceito de viés inconsciente: um conjunto de pré-julgamentos que temos sobre pessoas, símbolos e conceitos. Criamos esses julgamentos e interpretações a partir das relações e experiências individuais, criando assim um círculo sociocultural. Qualquer pessoa que tenha costumes ou até mesmo aparência diferente daquele círculo, inconscientemente vemos como algo fora do padrão e estranhamos. Esse círculo, começa com a família e vai reverberando pela condição sociocultural.
Juliana Bernardo: E como isso poderia causar miopia nos negócios?
Izabella Neves: Como buscamos nos cercar de pessoas parecidas, também acabamos criando produtos e serviços para um mesmo grupo. E assim você deixa de ter uma amostra real de oportunidade. Para comprovar que inclusão e diversidade não tratam de uma questão apenas social, um estudo da McKinsey Diversity Database mostra que a inclusão de diversidade dentro das organizações pode aumentar em 35% o faturamento.
Juliana Bernardo: Como enxergar inclusão e diversidade como temas além do social?
Izabella Neves: Sobre esse mesmo questionamento, o estudo da Mckinsey vai mais longe, além da performance financeira, mostrando que inclusão e diversidade podem impactar positivamente diversas camadas na organização. Por exemplo, atração de talentos, orientação maior a necessidades do cliente, satisfação dos colaboradores, aprimoramento na tomada de decisões e valorização da marca.
Juliana Bernardo: E qual o melhor caminho para lidar com isso no aspecto da inovação corporativa?
Izabella Neves: O primeiro passo é o mindset, trazer o assunto para categoria de negócios, como premissa para prosperar. Não deixar esse assunto como algo inteiramente da área social ou de sustentabilidade. Estamos caminhando para uma sociedade mais colaborativa e íntegra e isso precisa estar refletido dentro das empresas, assim como está acontecendo na sociedade.
Porém um ponto de atenção, busque trazer questionamentos para si antes de já entrar na sua empresa gritando pela diversidade. Começamos a partir do indivíduo antes de ir para o coletivo. Seguem algumas dicas para furar a sua bolha social:
1- Hackear o algoritmo, comece a seguir pessoas diferentes de você! Pense em etnia, gênero, PCD, pessoas com + de 60 e Lgbqtia+
2- Busque cursos ou até mesmo eventos que estão fora da sua zona de conforto, uma forma pode ser até mesmo sair do eixo RJ-SP. O que será que acontece em Minas? Nordeste? Norte? Sul?
3- Observar a si mesmo e ao seu entorno, busque verdadeiramente refletir sobre como se sentem pessoas diferentes de você. E analise isso, será que como me sinto é verdadeiramente meu? Por que me sinto dessa forma?
Juliana Bernardo: E para trabalhar no coletivo e convidar essas pessoas para esses eventos, palestras, quais as suas dicas?
Izabella Neves: A primeira delas é a representatividade, precisamos de referências, por isso faça questão de quando for montar um painel de evento, ter a mesma quantidade de mulheres e homens. Outra dica é fazer associações e parcerias. Existem milhares de grupos ou eventos focados somente em um grupo das minorias. Que tal fazer parcerias?
O treinamento também é importante; o viés inconsciente faz parte de quem somos e para ajudar nessa desconstrução, capacitar a si e suas equipes com especialistas no assunto trará uma nova perspectiva.
Outra dica é o diagnóstico, pois serve para compreender qual o grau da miopia. Faça pesquisas internas para entender a população da sua empresa, principalmente as lideranças. Existe representatividade?
Com esses questionamentos e exercícios em mente, busque trabalhar com equipes diversas, estude mais sobre outros grupos, observe e perceba que a inovação em novos negócios acontece a partir da inclusão.
Fontes :
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Izabella Neves é Innovation & New Business Specialist na B3
https://www.linkedin.com/in/izabellaneves/
Juliana Bernardo assina a coluna “Inovação no Mundo Real”, no Inova360, parceiro do portal R7. Formada em Administração de Empresas, com especialização em Comunicação, Marketing e TI pela USP, ela é Líder em Gestão de Inovação no BWG Group Brasil
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