Uma análise preliminar dos dados de temperatura global indica que julho pode ter sido o mês mais quente da história.
Dados dos primeiros 29 dias do mês, quando muitos países registraram ondas de calor, estão "no mesmo nível" ou um pouco acima do recorde estabelecido em julho de 2016.
A análise foi conduzida por pesquisadores do Copernicus Climate Change Service (C3S), órgão ligado à União Europeia.
A confirmação de um novo recorde deve aguardar uma análise completa, a ser divulgada na segunda-feira (05).
Os cientistas dizem que os dados representam um novo indício de que a Terra está passando por um aquecimento sem precedentes.
As informações compiladas pelo C3S foram baseadas em observações de imagens de satélites e estações terrestres.
Os números de julho provavelmente serão os mais altos registrados no conjunto de dados de 40 anos da organização.
Segundo o CS3, todos os meses deste ano estão entre os quatro mais quentes já registrados para o mês em questão.
Embora os pesquisadores não possam vincular diretamente esses novos recordes às mudanças climáticas, existe um amplo consenso entre os cientistas de que as emissões de dióxido de carbono geradas por atividades humanas estão alterando a temperatura da Terra e tornando esses novos recordes mais comuns.
"Este mês (julho) em particular tem sido muito quente, mas para mim este não é realmente o ponto principal. O ponto principal é que este mês não só foi muito quente, mas o mês passado também foi muito quente. Todos os meses de 2019 foram muito mais quentes na comparação com outros anos", diz à BBC News Freja Vamborg, do CS3.
"E essa tendência não deve parar a menos que façamos algo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa."
Aquecimento mundial
Apesar de julho ser tradicionalmente o mês mais quente do ano no mundo, ondas de calor excepcionais atingiram a Europa, os EUA e o Ártico em 2019.
Novos recordes de temperatura foram estabelecidos na Bélgica, Holanda e Alemanha, com os termômetros marcando acima dos 40°C em muitos locais. Um novo recorde de calor no Reino Unido foi registrado na semana passada, quando a temperatura no Jardim Botânico da Universidade de Cambridge chegou a 38,7°C.
Nos EUA, milhões de pessoas foram afetadas quando as temperaturas subiram ao longo da costa leste e no centro-oeste. O Alasca verificou um aumento dramático, e recordes de temperatura máxima anteriores foram quebrados em várias cidades.
Em Anchorage, a temperatura permaneceu acima de 26°C por seis dias seguidos, o dobro do recorde anterior.
Incêndios florestais devastaram o Ártico. Milhões de hectares foram reduzidos a cinzas no norte da Rússia.
A Índia sofreu ondas de calor e grave escassez de água. No Japão, mais de 5 mil pessoas buscaram tratamento hospitalar devido a uma onda de calor na semana passada.
"Esta é mais uma prova de que estamos caminhando para um mundo muito mais quente, se permitirmos que as emissões de carbono continuem aumentando", diz Katherine Kramer, da ONG Christian Aid, sediada no Reino Unido.
"Para muitas pessoas no mundo em desenvolvimento, essa é uma realidade há algum tempo, mas agora recordes de calor estão sendo verificados em países desenvolvidos e de alta emissão, como o Reino Unido", acrescenta ela.
"Se o novo primeiro-ministro (Boris Johnson) precisava de um lembrete de que não pode ignorar a mudança climática, este mês de julho mostrou que o Reino Unido não escapará de um planeta aquecido. Precisamos agir rápido e implementar políticas que reconheçam que vivemos uma emergência climática", conclui.
Recorde anterior
De acordo com a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA (NOAA, na sigla em inglês), julho de 2016 continua sendo o mês mais quente desde 1880.
Segundo o órgão, nove dos dez meses de julho mais quentes foram registrados durante o século 21. A exceção foi 1998.
No entanto, segundo a agência espacial dos EUA (Nasa), julho de 2016 e julho de 2017 estão empatados estatisticamente como o mês mais quente da história.
Os números para julho de 2019 dessas agências serão divulgados nas próximas semanas.
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