Por Marcio Bueno
Pela primeira vez na história a quantidade de tecnologia disponível supera a nossa capacidade de assimilação e compreensão.
Esta é uma afirmação dura, porém verdadeira.
Vou tratar este tema em duas partes, primeiro falando sobre o impacto nas pessoas e depois nas empresas.
Você já teve a sensação de que foi superado pela quantidade de tecnologia e que não entende mais tudo o que está acontecendo à sua volta?
A cada bate-papo com amigos aprendemos a usar uma função nova que ainda não conhecíamos em nossos aplicativos ou instalamos algo novo que ainda não tínhamos.
O ser humano, após mais de 6 milhões de anos de evolução e haver superado tantas dificuldades, tem de forma inerente a falsa sensação de que controla tudo.
De repente, a quantidade de tecnologia desbordou esta sensação de controle.
E agora?
Todo excesso é prejudicial, sem exceção.
Nos inícios dos anos 90, o psicólogo britânico David Lewis, publicou um artigo “Dying for information” (Morrendo pela informação) e propôs o termo Síndrome de Fatiga de Informação (IFS – Information Fatigue Syndromme). Com este artigo se iniciou um estudo que finalmente, em 1999, culminou em um livro “Information Overload”.
Após duas décadas, a quantidade de informação se multiplicou de forma exponencial, aumentaram os canais e a velocidade que ela circula.
Embora isso continue sendo um problema, em algumas pessoas disparou-se um mecanismo de defesa a este excesso de informação que é o de passar a ignorar toda a informação.
O cérebro diz, se eu não posso assimilar e filtrar toda a informação, eu simplesmente bloqueio e ignoro. O extremo de tentar ler e entender tudo não é bom, o de ignorar também não…
Mas antes mesmo de resolvermos este problema já surgiu outro, que talvez devesse ser chamada de Incapacidade de Assimilação da Tecnologia, ou para manter o padrão do IFS, TAI (Technology Absorption Inability).
A falta de compreensão neste momento é tão grave que tem gerado sérios problemas como Transtorno de Ansiedade devido a curta visão e perguntas em aberto sobre o futuro das profissões e dos postos de trabalhos derivados do processo de transformação digital.
Como apontado, o segundo motivo para humanizar as empresas no artigo – Entenda porque humanizar as empresas é necessário, urgente e rentável – mostramos que o Brasil é o campeão mundial de Transtorno de ansiedade quase três vezes acima da média mundial.
Este problema impacta as organizações de duas maneiras, a primeira é pelo absenteísmo. A depressão e o transtorno de ansiedade, segundo dados do Ministério do Trabalho, é a segunda causa de adoecimento no trabalho e a primeira causa de afastamento. Se as empresas não quiserem olhar pelo lado humano (que deveriam), ao menos que o façam pelo impacto e interesse econômico.
Construímos empresas que nos adoecem e isso não é motivo de orgulho para nenhum de nós.
O segundo problema que as empresas se enfrentam é que, ao existir tanta tecnologia, dedicam uma quantidade enorme de tempo em escolher uma tecnologia, estudam como integrar com as tecnologias atuais, iniciam a implantação e, em muitas ocasiões, antes mesmo de terminar já surgiu outra tecnologia.
Se a empresa cair na armadilha de focar somente na tecnologia, sem entender que ela é somente um meio e não um fim em si mesma corre o risco de ficar presa em uma teia de aranha onde faz muito esforço, investe alta soma e não sai do lugar.
Para profissionais liberais ou pequenos empreendedores esta situação também gera muita angústia, porque eles normalmente não têm conhecimentos nem equipe técnica para ajuda-los neste processo.
Em um workshop recente, uma participante disse que havia decidido fazer o workshop porque a falta de conhecimento profundo sobre o impacto da tecnologia no negócio dela, e isso lhe gerava angústia.
A incerteza tem um poder destrutivo muito grande em nossas vidas e empresas, não nos podemos permitir o luxo deixar que se instale em nós.
Então como devemos atuar? Proibir e limitar as tecnologias?
Só de escrever a palavra proibir me provocou rechaço. Isto, em minha opinião, está fora de cogitação.
Seria a mesma bobagem que se discutiu quando surgiu o documentário “Super Size Me”, alguém consumiu, de forma voluntária, durante 30 dias, comida processada do McDonald’s, engordou e teve vários distúrbios em sua saúde.
Devemos proibir o “fast food”? Claro que não!
Cada um deve controlar o próprio consumo.
No máximo, podemos fazer como o documentário e questionar o marketing, o incentivo inconsciente deste tipo de alimentação, os gatilhos mentais e técnicas utilizadas para atrair crianças, enfim, tudo isso é “melhorável”, porém, jamais proibir.
Da mesma forma acontece com a tecnologia, não devemos demonizá-la, e sim, aprender a utilizá-la a nosso favor.
O melhor, e talvez único, caminho para as empresas não caírem na roda de rota, de onde provavelmente fiquem presas, correndo sem sair do lugar, fazendo investimento de milhões em tecnologia e avançando muito pouco (ou nada) seria contratar um profissional especializado em transformação, que entenda de tecnologia porém que tenha como principal característica, e linha de trabalho, um perfil humanista.
Um profissional que coloque as pessoas no centro do processo de inovação e transformação digital e entenda que a tecnologia está para nos servir e que é um meio e não um fim.
Marcio Bueno assina a coluna “Tecno-Humanização”, no Inova360, parceiro do portal R7. É Tecno-Humanista, fundador da BE&SK (www.bensk.net) e criador do conceito de Tecno-Humanização.
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