28/08/2018

Elefantes sul-americanos não foram extintos por falta de comida

Elefantes asiáticos têm parentesco com espécie que viveu na América Latina
Elefantes asiáticos têm parentesco com espécie que viveu na América Latina Sean Gallup/Getty Images

A extinção dos elefantes na América do Sul não ocorreu devido à falta de recursos, nem à perda de habitat, é o que diz um estudo publicado nesta terça-feira na revista científica "PNAS".

O trabalho destaca a importância da região central do Chile como uma das áreas de estudo na América do Sul para a pesquisa dos refúgios de grandes mamíferos durante períodos glaciais e interglaciais e, concretamente, para o processo de extinção de sua megafauna durante a última Era do Gelo, um dos fenômenos de maior interesse paleontológico na atualidade.

O estudo analisou o caso dos gonfotérios, uma família extinta que tem parentesco com os elefantes atuais e com os mamutes eurasiáticos e americanos, que tinham uma dieta variada e se adaptavam ao que os ecossistemas proporcionavam.

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Seu interesse paleontológico reside no fato de que eles deveriam ter uma capacidade importante na transformação das paisagens vegetais, já que chegaram a ser muito variados e com uma elevada demanda por biomassa.

Além disso, ficou comprovado que a composição isotópica do oxigênio em seus dentes é um bom indicador do tipo de água ingerida, fornecendo informação climática com muita confiabilidade.

Por esses motivos, os gonfotérios são considerados atores-chave na pesquisa da extinção da megafauna durante o Pleistoceno Tardio (entre 12 mil e 10 mil anos atrás), já que o seu desaparecimento na América do Sul é relativamente recente.

No entanto, o conhecimento sobre o meio ecológico em que habitavam, assim como sua extinção na América do Sul, ainda apresenta ainda grandes dúvidas.

Para contribuir para atenuar essa situação, uma equipe multidisciplinar e internacional de cientistas estudou restos fósseis de molares de gonfotérios em 30 jazidas chilenas (distribuídos em uma extensão latitudinal de 1.500 quilômetros), a maior amostra já analisada até o momento.

O estudo revela que tais gonfotérios tinham uma alimentação dominada pelo consumo de recursos arbustivos e, em menor medida, mas complementar, de herbáceas.

Além disso, a diversidade do hábitat ocupado pelos gonfotérios na América do Sul apoia, por sua vez, a hipótese de que o seu padrão de alimentação parece estar mais caraterizado pela disponibilidade de recursos em determinados momentos (geleiras e intergeleiras) e não pela "função ecológica" da anatomia crânio-dental.

Essas conclusões foram obtidas a partir das análises de sulcos de microdesgaste, de isótopos estáveis e dos microfósseis presentes no cálculo dental (tártaro) dos elefantes extintos.

Cada uma dessas análises mostrou uma ampla resolução temporal ao longo da história de vida nos gonfotérios; ou seja, os pesquisadores puderam determinar a dieta e o ambiente, seja durante os primeiros meses e anos de vida e a dieta ingerida até a última semana antes de o animal morrer.

O estudo multidisciplinar foi realizado por uma equipe integrada pelo Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social (IPHES) e das Universidades Complutense de Madri, Austral do Chile, da Pensilvânia e da Califórnia (UCI), entre outros centros de pesquisa.

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