Em novembro deste ano, após o rompimento de um segundo cabo de sustentação da sua estrutura, foi anunciada pela NSF (Fundação Nacional de Ciências dos EUA) a desativação do radiotelescópio de Arecibo, em Porto Rico.
Contudo, na manhã desta terça-feira (1°), menos de um mês após essa decisão da instituição proprietária da instalação, a plataforma de equipamentos do observatório desabou de uma altura de aproximadamente 140 metros sobre a antena do local, dando fim aos 57 anos de funcionamento do sofisticado equipamento de observação espacial.
Antes destes dois acidentes decisivos para os rumos do observatório, em agosto um outro cabo já havia rompido no local, causando danos na estrutura da antena do radar do radiotelescópio. Na ocasião, o acidente danificou uma área de 30 metros de comprimento e quebrou vários outros cabos de sustentação.
Inaugurado em 1963, o radiotelescópio l tinha, como primeiro objetivo, se especializar na observação da ionosfera terrestre. Entretanto, a sua construção originou uma estrutura 10 vezes maior do que a esperada e o radiotelescópio ganhou uma estrutura parabólica de 305 metros de diâmetro.
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Com isso, as áreas de estudo do observatório foram também ampliadas, e o local ganhou, inclusive, uma curiosa fama ao longo do tempo: a de ser o radiotelescópio que buscava extraterrestres.
Isso porque, no dia 16 de novembro de 1974, observatório fez uma transmissão para o espaço com alguns dados sobre a Terra, que ficou conhecida como “Mensagem de Arecibo”.
“Foi o primeiro sinal que o radiotelescópio emitiu, como prova e teste. Eles apontaram para o Aglomerado Globular M13, e enviaram uma mensagem com informações como a posição do sistema solar, quantos habitantes tinham na terra, e qual era a altura média de um homem adulto”, destacou Cássio Barbosa, astrofísico do Centro Universitário da FEI.
Outro passo importante dado com a ajuda do radiotelescópio foi a descoberta de pulsares binários.
“A estrela de nêutron é muito pequena, mas tem muita massa, é muito densa, e possui um campo magnético muito forte. Então, como quase tudo no universo, ela gira. Quando você tem um campo magnético girando, a gente vê um pulso, como uma espécie de um farol passando”, explica Cássio sobre a formação dos pulsares.
Em 1974, os cientistas Russell Hulse e Joseph Taylor, da Universidade de Massachusetts, usaram o observatório e conseguiram captar um desses pulsares orbitando uma outra estrela, o que deu origem a um pulsar binário. Essa descoberta rendeu o Prêmio Nobel de Física de 1993 para os dois pesquisadores.
O radiotelescópio de Arecibo também foi utilizado para a descoberta de planetas que não estão no nosso sistema solar, nomeados pelos cientistas de exoplanetas.
“A gente tinha a noção de que sim, deveriam ter mais planetas pela galáxia, mas ninguém nunca tinha encontrado. Em 1992 foram descobertos três exoplanetas em torno de um pulsar”, ressalta o astrofísico da FEI.
A descoberta foi feita pelo astrônomo polonês Aleksander Wolszczan, que observou esses três planetas circulando um pulsar chamado PSR B1257 + 12.
Além de outras muitas descobertas realizadas com a ajuda do observatório, Cássio também destaca a perda no que diz respeito à proteção da Terra contra asteroides perigosos, que podem, ocasionalmente, se chocar com o nosso planeta. “Ele tinha a capacidade de ser utilizado como uma espécie de Radar que identificava esses alvos.”
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O observatório também foi influente dentro da cultura pop, dado que já participou de ao menos dois conhecidos filmes. O primeiro deles foi da famosa série de James Bond, “007 Contra GoldenEye” (1995), e o outro foi “Contato” (1997), uma ficção científica sobre vida inteligente fora da terra.
O radiotelescópio de Arecibo era o segundo maior do mundo, ficando atrás apenas do FAST, instalado na China, com 500 metros de diâmetro.
Com a perda da estrutura no Porto Rico, Cássio Barbosa afirma que o observatório pouco será aproveitado pelos astrônomos de agora em diante. “Acredito que vão desmontar todo o sistema, e o local vai virar, provavelmente, uma atração turística.”
*Estagiário do R7 sob supervisão de Pablo Marques
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