O clarão que pôde ser visto no céu de pelo menos cinco Estados do Nordeste brasileiro eram incomum, mas as hipóteses pipocaram nas redes sociais eram as de sempre: meteoro, nave alienígena, balão, míssil, foguete?
Era "apenas" um fenômeno ligado à queima de combustível do mais recente avanço do programa espacial chinês: uma missão não tripulada até a Lua para tentar coletar amostras de rochas e de "solo" e preparar terreno para missões com humanos.
A espaçonave Chang'e-5 partiu do complexo de lançamento de Wenchang, no Nordeste chinês, em um foguete Long March 5 na manhã de terça-feira (24/11) e, caso seja bem-sucedida, deverá retornar à Terra em meados de dezembro.
A última vez em que a humanidade trouxe amostras de rocha e do "solo" lunar para análise se deu há mais de 40 anos, com missões americanas e soviéticas.
Agora, a China pretende se tornar o terceiro país a alcançar essa façanha, mas a empreitada é extremamente complexa.
Essa missão tem diversas etapas, que envolvem um orbitador, um módulo de pouso e de decolagem e, finalmente, um componente de retorno que usa uma cápsula para resistir a uma entrada rápida e quente na atmosfera da Terra ao final da missão.
O otimismo é elevado depois de uma série de missões lunares bem-sucedidas que começaram há pouco mais de uma década com satélites.
Estes foram seguidos por combinações de veículo espacial lunar, com o mais recente, Chang'e-4, fazendo um pouso suave no outro lado da Lua, algo que nenhuma nação com programa espacial havia realizado antes.
O Chang'e-5 terá como alvo um local próximo chamado Mons Rümker, um complexo vulcânico em uma região conhecida como Oceanus Procellarum.
As rochas neste local são consideradas muito jovens em comparação com as coletadas pelos astronautas da Apollo dos EUA e pelos robôs soviéticos Luna. Algo como talvez 1,3 bilhão de anos contra as rochas de 3 a 4 bilhões de anos recolhidas nas missões anteriores.
Isso dará aos cientistas outra fonte de dados para o método que usam para estimar a idade de eventos no Sistema Solar.
Essencialmente, os pesquisadores contam as crateras. Quanto mais velha a superfície, mais crateras ela tem. E quanto mais jovem a superfície, menos ela tem.
"A Lua é como se fosse nosso cronômetro do Sistema Solar", explicou o Dr. Neil Bowles, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
"As amostras coletadas pelas missões Apollo e Luna vieram de locais conhecidos e foram datadas radiometricamente com muita precisão, e pudemos vincular essa informação à taxa de crateras e extrapolar as idades para outras superfícies do Sistema Solar."
As novas amostras do Chang'e-5 também devem ampliar nossa compreensão da história vulcânica da Lua, afirmou Katie Joy, da Universidade de Manchester, no Reino Unido.
"A missão está sendo enviada para uma área onde sabemos que ocorreram erupções de vulcões no passado. Queremos saber exatamente quando foi isso", disse à BBC News.
"Este registro nos fala sobre a história magmática e térmica da Lua ao longo do tempo, e a partir disso podemos começar a responder a perguntas mais amplas sobre quando o vulcanismo e o magmatismo estavam ocorrendo em todos os planetas do Sistema Solar e por que a Lua poderia ter se esgotado de energia por produzir vulcões mais cedo do que alguns desses outros corpos."
Quando o Chang'e-5 chegar à Lua, ele entrará em órbita. Um módulo de pouso se desconectará e fará uma descida. Uma vez ali, os equipamentos irão analisar os arredores antes de recolher algum material da superfície.
A sonda também tem a capacidade de perfurar o solo, ou regolito.
Um veículo de decolagem levará as amostras de volta para o veículo em órbita.
É neste estágio que uma complexa transferência deve ser executada, embalando a rocha e o solo em uma cápsula para o envio de volta à Terra. Uma nave direcionará a cápsula para entrar na atmosfera sobre a Mongólia.
Cada fase é difícil, mas a arquitetura é bastante semelhante às missões humanas à Lua nos anos 1960/70.
A China está se desenvolvendo de olho nesse objetivo.
"Você certamente pode ver a analogia entre o que está sendo feito na missão Chang'e-5, em termos dos diferentes elementos e sua interação uns com os outros, e o que seria necessário para uma missão humana", afirmou James Carpenter, coordenador científico para exploração humana e robótica da Agência Espacial Europeia.
"Estamos vendo agora uma expansão extraordinária na atividade lunar. Temos o programa Artemis liderado pelos EUA (para levar astronautas de volta à Lua) e as parcerias em torno disso; os chineses com seu programa de exploração bastante ambicioso; e muitos outros novos atores (como a Índia, os Emirados Árabes Unidos e a União Europeia)."
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