"Você é uma péssima mãe!" O bilhete, deixado por uma desconhecida em cima da mesa do restaurante onde Fernanda Monteiro estava com o marido e o filho caçula, motivou um desabafo no Facebook. A situação era a mais corriqueira possível: um casal com uma criança de seis anos, que, com sono, deitou e dormiu nas cadeiras. Foi o suficiente para aquela mãe virar alvo de uma crítica gratuita e agressiva.
Em entrevista ao R7, Fernanda Monteiro comentou o episódio. Formada em Direito e ex-instrutora de ioga, hoje ela é aluna de Psicologia e mãe de dois meninos, de 14 e 6 anos. Para ela, a crítica ter sido focada única e exclusivamente no papel da mãe já diz muito sobre o quanto há uma sobrecarga em cima da mulher.
— Há um bombardeio de informações, especialmente nas redes sociais, em que as pessoas ficam vendo modelos perfeitos de criar filhos, de ser mulher, de ser esposa. Muita gente escreve textos sobre como tem de ser ou deixar de ser, e não estão vendo como é o dia a dia. Só dá para dizer se é fácil fazendo. Isso leva a uma sobrecarga em cima de mãe, da mulher, assim como críticas.
Fernanda, em seu depoimento, deixou claro que isso foi o que mais a incomodou.
— Ela escreveu que eu sou uma péssima mãe….e meu marido? Ele não tem nada a ver com isso? Não estou aqui pra defender posturas feministas. Não é estranho não estar escrito “Vocês são péssimos pais? Por que cargas d’água só eu sou a responsável por deixar uma pobre criança indefesa, feita de porcelana, dormir na cadeira do restaurante? Que “mãe” é essa que a sociedade espera das mulheres?
A maior parte das reações que recebeu nas redes sociais foram de apoio, mas Fernanda faz questão de ressaltar que o nível de agressividade do episódio demonstra uma intolerância perigosa.
— Eu estava em uma situação muito tradicional, banal, a mulher, o marido, o filhinho dormindo. E se fosse eu e uma namorada? E se estívesse em outras esferas que, por si só, jã são tão criticadas? O que essa pessoa teria feito?
Fernanda também ponderou que, no caso dela, a ofensa não a atingiu, pois é muito bem resolvida com sua maternidade. Mas avalia que o alvo poderia ter sido uma mulher em uma situação mais frágil.
— Estou pouco me lixando para o que essa pessoa acha, felizmente fui eu a vítima dela, alguém que ela não vai atingir. Se fosse uma mãe vivendo um momento mais vulnerável poderia levar a sério. Há muitas mães que estão se auto infringindo essa cobrança de ser perfeita.
Veja, a seguir, a íntegra do texto que Fernanda publicou no seu Facebook:
“Hoje saí pra jantar com meu marido e meu filho caçula. Restaurante do lado de casa, fomos a pé. Eram 20:00 quando meu marido chegou do trabalho, momento em que meu filho estaria se preparando pra dormir, pois já tinha brincado, jantado, tomado banho…enfim, só que eu tive a “ousadia” de sair pra jantar com meu marido e uma criança com sono. Levamos um tablet, que não surtiu muito efeito pois meu filho logo dormiu em 3 cadeiras que ajeitei ao meu lado pra ele. Uma senhora loira, que jantava sozinha, ao sair, me deixou esse recadinho agressivo que vocês leem na imagem: “Você é uma péssima mãe”. Graças aos céus a vítima dela fui eu, porque ela mal me conhece, então não sabe de todo o sacrifício que fiz durante minha vida para ser a tal “boa mãe”, quantos sonhos não abdiquei pra ser a “boa mãe”. Culpa não é meu problema. Sabe o que pegou? Ela escreveu que eu sou uma péssima mãe….e meu marido? Ele não tem nada a ver com isso? Não estou aqui pra defender posturas feministas. Mas não é estranho que não esteja escrito: “Vocês são péssimos pais”? Por que cargas d’água só eu sou a responsável por deixar uma pobre criança indefesa, feita de porcelana, dormir na cadeira do restaurante? Que “mãe” é essa que a sociedade espera das mulheres? Talvez seja a mesma mãe que faz duplas e triplas jornadas e ainda assim nunca está bom…a mãe que abdica da carreira profissional, a mãe que não tem tempo hábil pra incrementar sua renda, a mãe que apanha calada dentro de casa…a mãe, a virgem, a pura, a santa. Pessoal, são por esses atos que mantemos um modo de ser que tá enlouquecendo homens e mulheres. Estamos esgotados, cansados, deprimidos. É muita maldade julgar a vida alheia. É muita maldade menosprezar os homens enquanto pais – acredito que meu marido e tantos outros são tão responsáveis quanto eu na criação dos nossos filhos – e se orgulham disso. É muita maldade idealizar a maternidade baseada em matérias de facebook, matérias baseadas em ideais de vida incompatíveis com a de seres humanos comuns como eu e vocês que estão lendo este post. Desabafei…não costumo fazer isso, aliás mal visito o facebook, mas senti que precisava compartilhar essa ignorância, essa violência que sofri, porque não estou sozinha – somos inúmeras as mulheres vítimas de outras mulheres que nos puxam de volta a um passado de submissão.”
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