Ao mesmo tempo em que cerca de 8 milhões de toneladas de plástico são despejadas no mar todos os anos, jogamos fora 11 bilhões de quilos de roupas anualmente.
O lixo altera a composição química do nosso mundo marinho, afetando todos os ecossistemas na água. Ao mesmo tempo, encher aterros de lixo, incluindo roupas, faz com que poluentes químicos contaminem solo e ar, com um impacto negativo sobre o planeta e, consequentemente, sobre a nossa saúde.
É óbvio que algo precisa ser feito. E nesse sentido, um conceito criado pela marca espanhola de roupas Ecoalf poderia ajudar.
O complexo e revolucionário projeto de sustentabilidade da empresa busca transformar os restos plásticos encontrados nas profundezas do Mar Mediterrâneo em barbante para costurar tecidos e fazer roupas.
A iniciativa, chamada Upcycling the Oceans, foi indicada para o prêmio Beazley Designs, que celebra anualmente iniciativas de design que levem a mudanças no mundo onde vivemos.
O slogan da Ecoalf é "Porque não há um planeta B", e seu objetivo é "criar a primeira geração de produtos reciclados com a mesma qualidade, design e propriedades técnicas que os melhores produtos não reciclados".
Até agora, parece que eles estão no caminho certo.
O projeto Upcycling the Oceans foi lançado originalmente em 2015 no país de origem da Ecoalf, a Espanha, com base em um modelo de economia circular que revoluciona o processo de criar roupas.
Há três passos principais: primeiro, pescadores locais coletam o plástico do solo do Mar Mediterrâneo, que é então purificado através da polimerização (que gera pellets, um produto granulado) e vira um filamento contínuo por meio da extrusão e transformação dos pellets em fios usados para costurar as roupas.
"(O projeto) vai expandir o conhecimento das pessoas sobre o que está acontecendo no planeta e sobre como estamos trabalhando para alcançar um objetivo muito definido: parar de usar recursos naturais de uma maneira irresponsável e deixar um futuro melhor para as próximas gerações", disse à BBC Javier Goyeneche, criador e presidente da Ecoalf.
A empresa já trabalhou com as marcas Swatch, Apple e Goop, além de uma parceria com a estilista espanhola Sybilla para criar uma coleção de dez peças como casacos coloridos reversíveis e jaquetas de nylon criadas a partir de redes de pescadores jogadas fora.
A Ecoalf expandiu sua operação para a Tailândia em setembro deste ano. O projeto é apoiado pelo Ministério do Turismo do país e pela empresa química PTT Global Chemical Public, e tem uma duração prevista de três anos.
BBC A estilista espanhola Sybilla colaborou com a Ecoalf criando uma coleção de roupas coloridas feitas com tecido reciclado de redes de pesca | Foto: Ecoalf/Sybilla
Cada item é 100% reciclável. Esse método pode ajudar a reduzir a enorme quantidade de roupas desperdiçadas que estamos criando, além de criar recursos sustentáveis para criar roupas de alta qualidade no futuro.
Não é só uma questão de criar roupas, porém. Cerca de 60% das 8 milhões de toneladas de plástico vêm de países asiáticos, segundo a Ecoalf.
O projeto na Tailândia inicialmente está focando na educação de locais a respeito de um estilo de vida sustentável e responsável, em uma tentativa de reduzir esse número com a coleta e os processos de reciclagem, chegando até a transformação do material bruto em roupas.
Goyeneche tem grandes esperanças em sua missão ecológica: "É uma enorme oportunidade, e desenvolvemos esse projeto de forma que ele possa ser replicado no mundo todo".
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site da BBC Culture
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