Um pequeno grupo de orangotangos que vem intrigando cientistas há duas décadas finalmente teve sua "identidade" revelada: formam uma nova espécie de macacos, os Tapanuli.
O grupo, que vive na Ilha de Sumatra, na Indonésia, foi documentado pela primeira vez em 1997, quando foram avistados em florestas remotas.
Ao longo dos anos, esses macacos foram apontados como "peculiares" por terem uma sequência genética diferente das de outros orangotangos vivendo ali. Agora, pesquisadores definiram que eles formam a terceira espécie de orangotangos do planeta, ao lado dos orangotangos-de-bornéu e dos orangotangos-de-sumatra. É a primeira vez em quase um século que uma nova espécie de grande macaco é descrita.
Em publicação no jornal científico Current Biology", a equipe de pesquisadores - das universidades de Zurique e Liverpool John Moores e do Programa de Conservação dos Orangotangos de Sumatra - diz que há apenas 800 indivíduos vivos da espécie recém-descrita. Assim, os Tapanuli são também uma das mais ameaçadas espécies de macacos do mundo.
Após constatarem peculiaridades no DNA destes orangotangos, cientistas embarcaram em uma profunda investigação sobre sua evolução ao longo de centenas de milhares de anos.
"A análise do genoma realmente nos permite olhar a história em detalhes. Podemos investigar profundamente no tempo e perguntar: quando essas populações se separaram?", explicou à BBC um dos autores do estudo, o professor Michael Krützen, da Universidade de Zurique, na Suíça.
A análise de 37 genomas completos de orangotangos mostrou que esses macacos se separaram de seus parentes de Bornéu há cerca de 700 mil anos.
Crânio a crânio
Em sua contribuição no estudo, o professor Serge Wich, da Universidade Liverpool John Moores, focou nos sons emitidos pelos orangotangos - ruído em alto volume por meio do qual macacos machos anunciam sua presença.
"Esses sons percorrem um quilômetro pela floresta", explica Wich. "Encontramos algumas diferenças sutis entre esta e outras populações (de macacos)".
A peça final do quebra-cabeça foi também um tanto sutil, mas igualmente contundente: o formato do crânio dos orangotangos-de-bornéu, dos orangotangos-de-sumatra e dos Tapanuli.
Wich disse à BBC que décadas de estudos genéticos, anatômicos e acústicos alcançaram um "avanço surpreendente".
"Existem apenas sete grandes espécies de macacos - não nos incluindo (os humanos)", disse ele. "Assim, acrescentar uma (espécie) para essa lista muito pequena é espetacular".
"É algo com o qual muitos biólogos sonham."
Mas esse macaco recém-descrito já será classificado como "criticamente em perigo" - a terceira categoria mais crítica em uma escala internacional de espécies sob ameaça.
"É muito preocupante descobrir uma coisa nova e imediatamente perceber que temos que concentrar nossos esforços para não perdê-la", diz Wich.
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