31/12/2019

As maiores notícias sobre ciência e meio ambiente de 2019

Greta Thunberg (no centro) entre manifestantes em uma greve pelo clima em Vancouver, no Canadá, em outubro
Greta Thunberg (no centro) entre manifestantes em uma greve pelo clima em Vancouver, no Canadá, em outubro Reuters

Neste ano, milhões de pessoas pelo mundo se mobilizaram para chamar atenção para a situação de emergência em que nosso planeta está. Será que 2019 ficará conhecido como o ano em que palavras viraram ações em relação à crise climática?

Relembramos as maiores histórias neste ano sobre ciência e meio ambiente. O ano em que o mundo acordou?

Em 2019, a reação global à crise climática aumentou de ritmo. Inspirado na ativista sueca Greta Thunberg, o movimento de greves pelo clima ganhou força. Milhões se juntaram a protestos durante um ano em países tão diversos quanto Austrália, Uganda, Colômbia, Japão, Alemanha e Reino Unido.

Greta chamou a atenção quando foi de barco, em vez de avião, para um encontro sobre o clima em Nova York. "Eu sentia que era a única que me importava com o clima e a crise ecológica... Agora, me sinto bem porque sei que não estou sozinha nessa luta", afirmou.

O que é o Extinction Rebellion, movimento que quer parar Londres em mega protesto ambiental e já está presente no Brasil

O grupo Extinction Rebellion (Rebelião contra a Extinção, em tradução livre), do Reino Unido, executou diversas ações não violentas em 2019, também em protesto contra a crise climática.

O grupo, que pede ações dos governos sobre a mudança climática, ocupou cinco lugares famosos no centro de Londres em abril de 2019. Eles "ancoraram" um barco rosa no meio de uma das avenidas mais movimentadas em Oxford Circus com a frase "Digam a verdade".

A verdade a que se referem é a de que o mundo estaria em meio a uma emergência climática, e governos precisam admitir isso.

O Parlamento britânico, aliás, declarou uma emergência climática no país, cedendo a uma das reivindicações do grupo.

Mas também houve revezes nos esforços políticos para reduzir a emissão de gases do efeito estufa. Os Estados Unidos, um dos maiores emissores do mundo, começou o processo de saída do Acordo de Paris.

O acordo foi anunciado em 2015 com a intenção de limitar o aumento da temperatura média global a menos de 2 graus. O presidente Donald Trump disse que o pacto era ruim para a economia americana e empregos.

O encontro climático da ONU deste ano, COP25, acabou em um acordo descrito por muitos como "decepcionante".

O Brasil ficou muitas vezes no centro dessa discussão de meio ambiente e crise climática. Primeiro, por causa das queimadas na Amazônia. E, em segundo lugar, por causa do derrame de óleo na costa brasileira e a demora do governo em lidar com suas consequências.

'Anel de fogo'

Rede de oito telescópios pelo mundo registrou a primeira imagem de um buraco negro
Rede de oito telescópios pelo mundo registrou a primeira imagem de um buraco negro EHT Collaboration

Em abril, astrônomos divulgaram uma imagem muito esperada: a de um buraco negro. É uma região no espaço da qual nada, nem mesmo a luz, pode escapar. A foto foi tirada por uma rede de oito telescópios espalhados pelo mundo e mostra o que foi descrito como um "campeão dos buracos negros".

O monstro de 40 bilhões de quilômetros de largura tem uma aréola intensa, ou "anel de fogo", ao redor. O fenômeno é causado por um gás superaquecido que cai dentro do buraco negro.

A imagem causou sensação e levantou a bola para uma das cientistas computacionais que trabalhou no projeto, Katie Bouman, de 29 anos. Ela ajudou a desenvolver o algoritmo que permitiu que a imagem pudesse ser criada. A foto dela com as mãos sobre a boca, sem conseguir conter a alegria com a imagem que aparecia em seu notebook, viralizou nas redes sociais.

Mas sua fama levou a acusações de que ela teria levado o crédito pelo trabalho de um colega homem. E ele, Andrew Chael, a defendeu. Em uma entrevista à BBC, Bouman disse: "No começo, fiquei muito assustada com isso. Mas... Eu acho, sim, que é importante chamarmos a atenção para as mulheres nesses papéis (na Ciência)."

Terra e oceanos sob ameaça

Dois importantes relatórios da ONU revelaram o tamanho da devastação humana na superfície da Terra e nos oceanos. O primeiro desses documentos do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) alertou que temos que parar de abusar da Terra se quisermos impedir uma mudança climática catastrófica.

O estudo mostrou como nossas ações estão degradando o solo, expandindo desertos, acabando com florestas e levando outras espécies à extinção. Cientistas envolvidos no processo da ONU também explicaram que mudar para uma dieta baseada em plantas também pode ajudar a conter a mudança climática.

Um aumento de 1,5º C na temperatura das águas pode acabar com os corais
Um aumento de 1,5º C na temperatura das águas pode acabar com os corais Getty Images

O segundo relatório, sobre os oceanos do mundo e regiões congeladas, detalhou como o nível das águas está subindo, o gelo está derretendo e espécies estão sendo forçadas a migrar.

Um coautor do estudo, Jean Pierre Gattuso, afirmou que "o planeta azul está seriamente em perigo agora, sofrendo muitos danos de muitas fontes diferentes e é nossa culpa".

Os autores dizem acreditar que as mudanças que provocamos vão cobrar seu preço. O aumento do nível do mar vai trazer profundas consequências para áreas costeiras vulneráveis onde vivem quase 700 milhões de pessoas.

Voo de reconhecimento

Arrokoth pode ser um objeto de gelo primitivo encontrado pela Nasa
Arrokoth pode ser um objeto de gelo primitivo encontrado pela Nasa NASA/JHUAPL/SWRI/Roman Tkachenko

No dia 1º de janeiro, a nave espacial New Horizons, da Nasa, fez a exploração mais distante até hoje de um objeto do Sistema Solar.

Lançada lá nos idos de 2006, ela cumpriu sua tarefa primária - um estudo sobrevoando o sistema de Plutão - em 2015. Mas ainda com muito combustível no tanque, cientistas decidiram direcionar a nave espacial para um novo alvo, um objeto chamado 2014 MU 69.

MU 69, depois chamado de Ultima Thule, e mais recentemente Arrokoth, pode ser um objeto de gelo primitivo na área distante do nosso Sistema Solar chamada de Cinturão de Kuiper.

Há centenas de milhares de objetos como esse, e seu estado congelado pode guardar segredos de como todos os corpos planetários se formaram há 4,6 bilhões de anos.

Neste ano, cientistas apresentaram detalhes sobre o que haviam encontrado em uma grande conferência em Houston, no Estado americano do Texas.

Eles determinaram que duas partes do Arrokoth se formaram quando dois objetos distintos colidiram a uma velocidade relativamente baixa - cerca de 3 metros por segundo, segundo um membro da equipe, Kirby Runyon.

Recorde do derretimento de gelo na Groenlândia

Em setembro, o cientistista do Reino Unido David King disse estar assustado com o rápido ritmo das mudanças relacionadas ao clima no mundo. Um dos exemplos mais chocantes, para ele, é o recorde de derretimento de gelo na Groenlândia.

Em junho, a temperatura subiu a níveis muito acima dos normais no território dinamarquês, fazendo com que metade de sua superfície de gelo derretesse. Só em 2019, a Groenlândia perdeu gelo o suficiente para aumentar os níveis do mar em mais de um milímetro.

Há tanta água congelada na Groenlândia que se toda sua camada de gelo descongelasse, ela aumentaria os níveis do mar em até 7 metros. Embora isso pudesse levar centenas ou milhares de anos, cientistas polares disseram em uma reunião da American Geophysical Union em dezembro que a Groenlândia estava perdendo seu gelo 7 vezes mais rápido que nos anos 1990.

Rochas no espaço

Modelo 3D do asteróide Bennu, criado usando dados da missão da Nasa Osiris-Rex
Modelo 3D do asteróide Bennu, criado usando dados da missão da Nasa Osiris-Rex NASA

Enquanto vemos muitos asteróides rondando a Terra em filmes, a probabilidade de um se chocar contra a Terra é pequena. Mas como os dinossauros descobriram, o risco aumenta com o tempo. Cerca de 19 mil asteróides próximos à Terra estão sendo monitorados, mas muitos não são detectados por telescópios, então sempre existe a chance de uma colisão ocorrer "de surpresa".

Em março, cientistas da Nasa disseram à Conferência de Ciência Lunar e Planetária que uma grande bola de fogo havia explodido na atmosfera da Terra no fim de 2018. Uma rocha espacial veio sem aviso e detonou com 10 vezes mais energia que a bomba atômica em Hiroshima.

Por sorte, a rocha explodiu sobre o mar da remota península Kamchatka, na Rússia. Mas uma explosão daquele tamanho poderia ter trazido sérias consequências se tivesse acontecido mais perto do solo, sobre uma área densamente povoada.

E em julho, um asteróide do tamanho de um campo de futebol chegou perto da Terra, a 65 mil km da superfície do planeta — quase um quinto da distância à Lua. A rocha de 100 metros foi detectada apenas dias antes de passar pela Terra.

Enquanto isso, duas naves espaciais robóticas examinam diferentes objetos próximos à Terra. Cientistas trabalhando na missão Hayabusa, do Japão, reportaram que o asteróide identificado, Ryugu, era um destroço de um objeto ainda maior.

O 'vilão desconhecido' do aquecimento

Aparelhagem de distribuição elétrica em muitos lugares do mundo usa o SF6 para evitar incêndios
Aparelhagem de distribuição elétrica em muitos lugares do mundo usa o SF6 para evitar incêndios Getty Images

O gás hexafluoreto de enxofre (SF6) não é muito conhecido. Mas como um dos gases de efeito estufa mais estudados pela Ciência, pode exercer um papel cada vez mais importante nas discussões sobre mudanças climáticas.

Há uma consequência não intencional no "boom" de energia limpa. O gás barato e não inflamável é usado para previnir curto-circuitos e fogo em interruptores e disjuntores de grande porte.

Com mais turbinas sendo construídas ao redor do mundo, mais desses aparelhos estão sendo instalados. A maioria usa o gás.

Embora concentrações atmosféricas sejam pequenas por agora, a base global de SF6 usado deve crescer em até 75% até 2030. É preocupante, já que não há mecanismo natural que destrua ou absorva o gás quando ele é solto na atmosfera.

Corrida quântica

Processador Sycamore, apresentado pela Google, seria o primeiro de um computador quântico, segundo a empresa
Processador Sycamore, apresentado pela Google, seria o primeiro de um computador quântico, segundo a empresa Google

Computadores quânticos são uma grande promessa. Eles prometem velocidade e habilidade de resolver problemas que estão além dos tipos convencionais mais poderosos.

Mas cientistas têm tido dificuldade para construir aparelhos com unidades de informação (bits quânticos) para fazê-los competitivos com computadores clássicos.

Uma máquina quântica não havia ultrapassado uma convencional até este ano. Em outubro, a Google anunciou que seu processador quântico avançado, Sycamore, havia atingido "supremacia quântica" pela primeira vez.

Pesquisadores dizem que o processador cumpriu em 200 segundos uma tarefa específica que o melhor supercomputador convencional existente no mundo levaria 10 mil anos para completar.

A IBM, que também está trabalhando para conseguir viabilizar computadores quânticos, questionou alguns números apresentados pela Google. Mas o feito representa um passo importante para cumprir algumas das previsões feitas para esses supercomputadores.

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