Por Márcio Bueno
Durante muito tempo o concorrente de uma empresa era outra empresa que fazia o mesmo que ela. Essa realidade começou a mudar quando os concorrentes saíram do bairro e passaram a ser empresas no mesmo estado, país e por fim, em qualquer parte do planeta. Porém, os novos concorrentes continuaram sendo empresas do mesmo setor e que vendiam produtos similares.
Com os concorrentes identificados e com o conhecimento do setor de atuação, a gestão se concentrava em controlar ou reduzir os custos, despesas e maximizar as receitas. Muitos setores da economia, para não dizer a maioria, também tinham a proteção de regulamentações específicas, associações, sindicatos e conselhos regionais, que protegiam as empresas e os profissionais liberais – não estou dizendo que seja bom ou ruim, somente constatando.
Agora, essas premissas, amplamente conhecidas, dominadas e ensinadas nas escolas de negócio, em que qualquer profissional de mais de 30 anos estudou, caíram por terra.
Há pouco mais de uma década, a tecnologia começou a trazer concorrentes de fora do setor, que não possuem a mesma estrutura de custo, nem seguem as mesmas regras.
Por exemplo, o concorrente de uma empresa aérea era outra empresa aérea. Quando subia o petróleo, impactava as duas. Quando subia o dólar, impactava as duas. Quando a ANAC mudava alguma regra, impacta as duas. Portanto, o desafio era controlar os custos e aumentar as receitas.
Há pouco mais de dez anos, esta realidade mudou. Além de outra empresa aérea, a tecnologia trouxe como novo concorrente das empresas aéreas a videoconferência. Quando sobre o petróleo, continua impactando a empresa aérea, mas a empresa de videoconferência? Nada. Por isso as companhias de aviação sofreram um impacto enorme e muitas tiveram que passar por fortes reestruturações ou realizar fusões para sobreviver.
Este tipo de situação traz um novo desafio às empresas. Como competir em um cenário onde o seu concorrente não tem as mesmas regras que você?
A realidade atual é que este tipo de situação está acontecendo e vai acontecer mais e mais rápido. Para não ficar somente em um exemplo antigo, temos a Apple que, há um mês, lançou um cartão de crédito, portanto temos uma empresa de tecnologia competindo com bancos (por certo, um setor regulado). Por outro lado, os bancos começam a competir com coworking. O coworking com as imobiliárias. E por aí vai.
Estas transformações estão acontecendo, independente de nossa vontade, e o maior perigo é não ser consciente ou não entender todo este processo. Frequentemente, me encontro com empresários que dizem que suas empresas passam por um momento de dificuldade pela crise econômica, pela política ou por culpa da tecnologia que está matando seu negócio. Provavelmente cada um destes fatores tenha sua parcela de responsabilidade, mas o processo de transformação é mais amplo.
Diante deste novo cenário, muito mais complexo e dinâmico, temos diferentes agentes que podem impactar a empresa de forma diferente. A transformação digital passiva, por exemplo, que vimos no artigo da semana anterior. Outro ponto são produtos, serviços ou modelos negócio, do mesmo setor da empresa ou não, que podem impactar a empresa.
Antes era menos complexo, bastava frequentar as feiras e congressos do setor em que a empresa atuava e pronto. Hoje continua sendo importante, porém já não é suficiente.
O timing na identificação deste tipo de situação é fundamental e pode significar uma grande oportunidade para a empresa crescer ou uma grande ameaça capaz de levá-la à falência.
Se aprender a ler este momento de transformação e saber se posicionar é tão importante, a pergunta é, como fazê-lo? A imensa maioria das empresas não é consciente disso e as que são não têm uma metodologia formal para fazer este tipo de pesquisa.
Partindo desse desafio, criamos o conceito do observatório, que, primeiramente mostra que os concorrentes podem vir de fora do setor e, depois, treina o olhar da empresa para identificar essas tecnologias ou modelos de negócio que possam impactar a empresa. Após identificar as tecnologias ou modelos de negócio, é importante saber analisar o impacto da tecnologia para a sociedade, para a empresa e para os clientes.
Sabemos que os grandes riscos e as grandes oportunidades não estão na tecnologia em si, mas sim em seu impacto.
Por isso aplicamos o modelo de análise de impacto de tecnologia; tanto o observatório como o modelo de análise de impacto da tecnologia fazem parte da jornada de transformação tecnológica tecno-humanizada, uma metodologia que une tecnologia, negócios e mudança de mentalidade (mindset) para transformar empresas em organizações rentáveis e conscientes.
Marcio Bueno é Tecno-Humanista, fundador da BE&SK e criador da Tecno-Humanização www.bensk.net
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