Por Marcio Bueno
O que me motivou a escrever este texto foi o artigo da semana passada, no qual dei a minha visão sobre as prioridades dos CEOs a respeito da inovação. O fato de que a principal prioridade seja o crescimento ficou martelando em minha cabeça.
Basta olhar à nossa volta e ver como é nociva a busca pelo crescimento ilimitado. Para sermos capazes de analisar este cenário, é importante entendermos as diferenças entre crescimento e desenvolvimento.
Enquanto o crescimento está relacionado a indicadores quantitativos, o desenvolvimento é muito mais amplo e qualitativo. Ele representa a aplicação da riqueza gerada pelo crescimento, a forma que é transformada em educação, saúde, cultura e qualidade de vida.
No caso do setor público, o crescimento de um país é medido pelo PIB (Produto Interno Bruto), ou seja, representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos pelo país.
Vamos analisar somente o ponto de vista de crescimento, tomando a China como exemplo. Se ela continuar crescendo como cresceu na última década, teríamos duas Chinas antes de 2030. O problema é que não cabem duas Chinas no planeta, não haveria clientes para duas produções chinesas.
Sem contar que, para a produção chinesa crescer a este ritmo seria necessário canibalizar e transferir a produção de outro país para a China, o que gera desemprego local, e todas as consequências negativas associadas.
Óbvio que não podemos manter as produções locais por imposição, temos que buscar melhorar a competitividade do país, mas isso é assunto para outro artigo.
No caso das empresas, os indicadores de crescimento são faturamento e lucro, e qual o caminho que as empresas encontraram para crescer?
A transformação digital!
Aplicar tecnologia para reduzir custos, otimizar processos, melhorar experiência do cliente, aumentar o alcance geográfico e as vendas.
Essa transformação digital só acelera o colapso econômico e social e não pela tecnologia por si só, mas porque parte de uma premissa equivocada e perversa.
É nossa obrigação buscar desenvolvimento, criar organizações Tecno-Humanizadas, que aplicam tecnologia para transformar seus produtos, serviços e modelos de negócios em operações rentáveis e humanizadas.
Claro que as empresas devem crescer, vender mais, otimizar custos e recursos, negociar com seus fornecedores, competir, e ganhar dinheiro.
Isso se chama boa gestão e a sobrevivência da empresa depende disso. A questão é que não podemos buscar o crescimento a qualquer custo.
Ao trocar crescimento por desenvolvimento, inevitavelmente a empresa promove o desenvolvimento de tudo e todos à sua volta de forma harmônica e sustentável ao longo do tempo.
Para que isso não seja apenas uma declaração de boas intenções, vamos mostrar a diferença entre um modelo de negócio de uma empresa de sapatos que busca crescimento e outra desenvolvimento.
Uma empresa de sapatos, para crescer da forma tradicional, busca reduzir o custo da matéria prima, de mão de obra, de produção, e aumentar as vendas.
Para reduzir os custos de matérias primas, é comum não se preocupar com a origem ou seu processo produtivo. Para reduzir o custo de produção e mão de obra há dois caminhos, ou automatizar a produção o máximo que puder ou levar a produção para China (exemplo que ilustra o que comentei sobre canibalização e transferência de produção).
Utiliza-se de tecnologias de IoT, Big Data, Analytics e IA para mapear os hábitos de consumo dos clientes e criar campanhas de marketing para gerar demanda. Aplica-se gatilhos mentais para induzir o consumismo e compras por impulso, mesmo sabendo que talvez os clientes não precisem do produto naquele momento. Isso é transformação digital aplicada ao crescimento.
Porém, se a empresa utiliza materiais reciclados ou sustentáveis, tanto no sapato como na embalagem, ela se preocupa pela origem da matéria prima e que o processo produtivo seja sustentável, humanizado e justo.
Se a empresa trabalha com conceito de co-criação (inovação colaborativa) para criar novas estampas, parte da produção é feita por uma fábrica nacional, outra parte é feita por células produtivas formadas por mulheres em situação de vulnerabilidade, que participam de um ONG e receberam maquinaria e treinamento para trabalhar.
A empresa não se aproveita da situação laboral desfavorável destas mulheres, muito pelo contrário, paga salários justos acima da média do mercado. Não se trata de assistencialismo, a empresa oferece dignidade através do trabalho.
Parece um modelo de negócio dos sonhos?
Pois é, ele existe, a empresa é brasileira e se chama Linking Dotz e você pode conhecer seu modelo no canal observatório BE&SK.
Esse modelo também precisa das mesmas ferramentas e tecnologias que o anterior, ou seja, Big Data, Analytics, IA, marketing digital, etc. A diferença é que quando essa empresa cresce todos crescem à sua volta e isso é desenvolvimento.
Marcio Bueno assina a coluna “Tecno-Humanização”, no Inova360, parceiro do portal R7. É Tecno-Humanista, fundador da BE&SK (www.bensk.net) e criador do conceito de Tecno-Humanização.
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