Por Marcio Bueno
Frequentemente vejo empresários dizendo “a minha empresa é muito pequena para um processo de transformação digital ou de negócios…”
Diante deste pensamento, a pergunta me faço é: desde quando fazer as coisas corretamente exige um tamanho mínimo de empresa?
Um dos maiores erros que pode cometer um gestor ou um empreendedor é sofrer o efeito Dunning-Kruger. Isso pode condenar a sua empresa à morte.
Este efeito foi estudado em meados de 1990 por David Dunning e seu aluno Justin Kruger da Universidade de Cornell. Tudo começou quando McArthur Wheeler, de 44 anos, roubou dois bancos em plena luz do dia, sem máscaras nem disfarces. Ao ser preso e interrogado, ele não entendia como havia sido descoberto já que ele havia aplicado limão em seu rosto, conforme lhe haviam dito, acreditando que isso o faria invisível perante as câmeras de segurança.
Este crime, absurdo e inusitado, gerou o seguinte questionamento no professor David Dunning, da Universidade de Cornell: “Poderia ser possível que minha própria incompetência me deixasse inconsciente dessa mesma incompetência?”
Dunning convidou um aluno brilhante, Justin Kruger, para realizar um estudo e encontrar uma resposta a esta pergunta.
O estudo demonstrou que quanto maior a incompetência de uma pessoa, menos consciente ela é sobre sua incompetência. Por outro lado, as pessoas com maior conhecimento, paradoxalmente, tendem a subestimar suas competências.
O resultado faz todo o sentido, já que para que uma pessoa reconheça e aceite sua própria incompetência sobre um determinado assunto, deveria ter os conhecimentos necessários para julgar se é incompetente ou não. Ao não ter esses conhecimentos não pode ser consciente de sua incompetência…
E o que a psicologia e o efeito Dunning-Kruger tem a ver com Transformação Tecnológica ou de Negócios?
Muito simples, o efeito Dunning-Kruger corporativo não se refere à incompetência, e sim à falta de conhecimento de uma área específica. E esse desconhecimento que sofre a maioria das empresas e profissionais liberais pode ser seu maior inimigo.
Ao não conhecer e/ou entender os impactos da transformação digital em seu negócio, ele é incapaz de julgar os riscos e oportunidades ao qual o profissional ou a empresa estão expostos.
O executivo sabe da importância e, além disso, da necessidade de realizar uma transformação em seu negócio, mas, em muitos casos, desconhece a magnitude da transformação à sua volta (conceito de transformação digital ativa e passiva).
É igualmente perigoso perder os trens das oportunidades que passam à sua frente como, por exemplo, não enxergar as ameaças que se aproximam vindas de fora de seu setor (concorrência transversal), sem que ele tenha o conhecimento e a metodologia adequada para detectá-los.
Normalmente os empresários e executivos se protegem inconscientemente de sua falta de conhecimento justificando que seu negócio é diferente, que tem particularidades e que está protegido por regulamentações, leis e conselhos regionais. Mais ainda, que seu negócio é único e isso lhe outorga um manto protetor (ou uma capa de super-herói) que lhe protege de todas transformações que estão acontecendo no mundo real…
Eles utilizam as mesmas muletas de sempre para justificar as dificuldades em seus negócios e, assim, atribuem os problemas basicamente a quatro coisas:
1- Problemas sistêmicos: crise econômica, excesso de burocracia, carga tributária, lei trabalhista, etc.
2- Crise política: instabilidade, corrupção, etc.
3- Falta de mão de obra qualificada e comprometimento
4- Se consideram pequenos demais
Porém, estes pontos são somente a ponta do iceberg e usá-los como escudo (desculpa) para justificar a situação de seu negócio é extremamente ingênuo e perigoso.
Os três primeiros fazem parte da cultura do país, crescemos ouvindo isso e os tomamos como verdades absolutas. Não quero dizer com isso que estes pontos não existam e que seus impactos não são relevantes. É óbvio que sim! Mas não são, em absoluto, impedimento para desenvolver seu negócio.
Entretanto, o quarto motivo não faz nenhum sentido – dizer que se é pequeno demais para passar por um processo de Tecno-Humanização seria como dizer que só precisamos aprender a falar quando atingimos a maioridade.
Uma banca de jornal, um vendedor ambulante, uma rede de lojas ou uma grande indústria pode, e deve, Tecno-Humanizar seu negócio.
Também não há momento. Se as coisas vão bem, você deve preparar o seu negócio para a próxima onda. Se vão mal, deve transformá-lo para evitar a quebra.
Porém, a transformação, digital e de negócio são complexas, não há receita pronta e, muito menos, mágica. Tentar fazer isso sozinho pode tornar pior a emenda que o soneto.
Para mitigar este enorme risco, as empresas não precisam saber tudo. Não há como eliminar totalmente o efeito Dunning-Kruger, elas precisam abrir sua mente, reconhecer a incompetência. Isso não é pejorativo, é de sábios, e contar com a ajuda de um mentor de transformação externo para ajudá-las neste processo.
Marcio Bueno assina a coluna “Tecno-Humanização”, no Inova360, parceiro do portal R7. É Tecno-Humanista, fundador da BE&SK (www.bensk.net) e criador do conceito de Tecno-Humanização.
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