Com a entrada em órbita do último satélite do sistema Beidou-3, a China deu seu passo final para obter a cobertura global de seu próprio sistema de navegação, o BDS.
O país asiático busca independência do Sistema de Posicionamento Global, conhecido por sua sigla em inglês GPS, criado e administrado pelo governo dos Estados Unidos e usado em quase todo o mundo.
A nova aposta chinesa pretende superar o concorrente ao prometer, com 35 satélites e investimento de US$ 10 bilhões (quase R$ 54 bilhões em valores atuais), uma melhor e mais precisa cobertura de navegação global que a do GPS.
A independência do GPS é algo que a Rússia também alcançou com seu sistema GLONASS. A União Europeia também tem sua própria navegação, o Galileo.
Especialistas afirmam que o BDS ainda precisa ser posto à prova. “Desenvolver e operar um sistema global de navegação por satélite é muito difícil”, afirmou em entrevista à BBC Brian Weeden, diretor da Secure World Foundation, um think tank com sede na capital americana, Washington.
O lançamento do Beidou-3, o último do projeto, havia sido programado para a semana passada, mas houve atrasos por problemas técnicos no foguete Longa Marcha 3B.
Ele entrou em órbita na terça-feira (23/6) logo depois de deixar o Centro de Lançamento de Satélites Xichang, localizado em um vale rodeado de montanhas no sudoeste da China.
“Não houve nenhuma falha, o lançamento foi um completo sucesso”, afirmou o comandante Yin Xiangyuan à televisão estatal chinesa, segundo a agência de notícias EFE.
O programa espacial da China se expandiu rapidamente nos últimos 20 anos, à medida que Pequim destinava mais recursos para desenvolver seus próprios sistemas de alta tecnologia do país.
Beidou (Ursa Maior, em chinês) é considerado um passo significativo porque dará acesso a informações de geolocalização tanto para atividades militares quanto para civis.
O Sistema de Navegação por Satélite Beidou, ou BDS, é composto por uma “constelação” de satélites lançados ao espaço ao longo de três fases.
A primeira, Beidou-1, tem três satélites operando desde 2000. A Beidou-2 melhorou a capacidade a partir de 2011, com mais 10 satélites para cobrir a região Ásia-Pacífico.
Com o acréscimo de mais 22 satélites do programa Beidou-3 a partir de 2015, o sistema alcançará cobertura global neste ano e superará o GPS em diversos pontos.
Um é a disponibilidade de satélites. O BDS conta com 35, seguido do GPS (32), do GLONASS (26) e do Galileo (26).
Pequim assegura que seu sistema terá uma precisão de localização de 10 centímetros. A do GPS é de 30 centímetros.
O BDS também oferece serviços de comunicação graças a uma maior largura de banda, além de incorporar relógios atômicos mais estáveis e precisos, segundo a Academia Chinesa de Tecnologia Espacial.
Os telefones celulares de fabricantes chineses como Huawei e OnePlus já têm acesso ao sistema BDS.
Os serviços de posicionamento por ponto preciso, conhecidos como PPP, estão em funcionamento em milhares de táxis, ônibus e automóveis particulares, além das Forças Armadas chinesas.
Yang Changfeng, um dos líderes do projeto, afirmou ao jornal estatal chinês Global Times que seu sistema é compatível com o GPS, o GLONASS e o Galileo, e os usuários podem escolher o que tiver a melhor cobertura.
Segundo Pequim, mais de 200 países pediram à China acesso às tecnologias BDS.
Desenvolvido originalmente para o Exército chinês a fim de reduzir a dependência do GPS, o BDS se converteu em uma oportunidade comercial para a China à medida que sua cobertura se expandiu.
Três dezenas de países que integram o ambicioso projeto da Nova Rota da Seda da China já contam com acesso ao BDS.
“Certamente há um aspecto de que isso tem a ver com a expansão da influência, mas também passa pela segurança econômica”, afirmou à BBC Alexandra Stickings, do Instituto Real de Serviços Unidos para Estudos de Defesa e Segurança. “A principal vantagem de ter seu próprio sistema é a segurança de acesso, no sentido de que não depende de outro país. Os Estados Unidos poderiam negar acesso a usuários de algumas regiões em tempos de conflito, por exemplo.”
Para Blaine Curcio, fundador da Orbital Gateway Consulting, uma consultoria do mercado de satélites sediada em Hong Kong, “é provável que vejamos uma maior bifurcação do mundo em dois campos: pró-China e pró-EUA”.
“A partir dessa perspectiva, aqueles que se tornam pró-China podem ser mais propensos a desconfiar dos serviços de navegação por satélite dos Estados Unidos e da União Europeia”, afirmou Curcio à BBC.
Apesar da sofisticação tecnológica, especialistas como Brian Weeden afirmam que o sistema BDS tem pelo menos um ponto fraco: um processo de transmissão bidirecional envolvendo satélites que enviam sinais para a Terra e dispositivos que transmitem sinais de volta.
Isso pode comprometer a precisão e requer mais largura de banda do espectro. Os dispositivos GPS, por exemplo, não precisam transmitir sinais para os satélites.
*Com informações de Pratik Jakhar, da BBC Monitoring.
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