30/10/2017

Mais de 40% das mulheres têm vergonha de comprar camisinha 

As mulheres ainda se sentem julgadas a comprar e andar com o produto
As mulheres ainda se sentem julgadas a comprar e andar com o produto Getty Images

Quando se trata da sexualidade feminina, existe um descompasso entre o discurso e o comportamento. Dados levantados pela antropóloga Mirian Goldenberg para um estudo sobre o uso da camisinha revelam que as mulheres ainda têm vergonha de comprar o produto e de andar com camisinha na bolsa, o que, muitas vezes, leva ao não uso do preservativo. Para 42% das entrevistadas é muito desconfortável adquirir o produto, e 37% se sentem julgadas no momento da compra. 

"Ao mesmo tempo que existe um discurso libertário, de que a mulher pode tudo, há esse constrangimento. A vergonha parece estar relacionada ao medo de serem julgadas como promíscuas, enquanto os homens não sofrem o mesmo julgamento. É a dupla moral sexual: os homens são mais livres sexualmente e até mesmo estimulados a terem uma vida sexual ativa e diversificada. Já as mulheres ativas sexualmente seriam representadas socialmente de forma muito negativa, sofrendo inúmeras acusações, tais como: promíscuas, galinhas, fáceis, periguetes, etc.”, explica a antropóloga. Os homens não sentem esse peso e 72% declararam achar natural e tranquilo comprar camisinha.

Mulheres ainda enfrentam tabus e preconceitos no consumo do produto
Mulheres ainda enfrentam tabus e preconceitos no consumo do produto Reprodução

"A gente acreditava que esta era uma geração que já nasceu usando camisinha, e que as mulheres teriam esse preocupação maior em se proteger. No entanto, o que encontramos foram mulheres que se sentem mal ao comprar e ter preservativo. Elas relatam contrangimento e olhares de julgamento dos atendentes, inclusive mulheres", analisa Mirian. O mais preocupante é que essa vergonha de comprar é maior (49%) entre a faixa de 18 a 24 anos, que está começando a vida sexual. "Ter vergonha de se proteger parece meio inconcebível. Por que ter vergonha de algo que deveria ser uma obrigação de todas as mulheres, esse cuidado consigo mesma?" 

A vergonha e o constrangimento na hora de comprar aparecem na pesquisa
A vergonha e o constrangimento na hora de comprar aparecem na pesquisa Reprodução

Por outro lado, saber que todas as mulheres sofrem o mesmo preconceito, que há outras passando pela mesma coisa, mostra que essas meninas não estão sozinhas, não é culpa delas. Assim, diz Mirian, se sofre um pouco menos. "É um problema de cultural, comprar camisinha é uma afirmação de que você faz sexo. Ele pode transar, mas a menina não. O discurso mudou muito, mas o comportamento demora a mudar."

Julgamento moral

Outro dado que surpreende na pesquisa, realizada com 500 homens e 500 mulheres, é que 52% das mulheres e 47% dos homens nunca ou raramente usam camisinha. Entre as mais jovens, de 18 a 24 anos, o índice chega a 58%. Já entre os homens, 66% pediram em algum momento para não usar.

"Para as mulheres, o uso ou não do preservativo sempre está relacionado à confiança no parceiro, na crença na relação, de que aquela é a pessoa com quem ela vai ficar, e acredita que pode não usar a camisinha. No entanto, depois de transar sem camisinha, 57% relatam medo de gravidez ou DST", relata a antropóloga. 

A falta do preservativo leva a um arrependimento
A falta do preservativo leva a um arrependimento Reprodução

O julgamento moral também acomete a mulher que anda com camisinha na bolsa. Existe a crença de que se trata de uma mulher mais disponível para o sexo. Os homens reconhecem que existe o preconceito, inclusive com amigos, mas invertem o discurso. "Quando questionados se acham que menina que leva camisinha não é pra casar, a resposta surpreende. Dizem que essa é que é para casar, pois ela é responsável e se protege. Eles têm um discurso muito positivo, mas o comportamento não acompanha", analisa Mirian. 

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