31/10/2017

ONU: Melhor cenário de emissões de CO2 não resolve aquecimento global

O aquecimento global tem provocado vários fenômenos meteorológicos em todo o mundo, tais como alagamentos e deslizamentos
O aquecimento global tem provocado vários fenômenos meteorológicos em todo o mundo, tais como alagamentos e deslizamentos Reuters

A pouco menos de uma semana para o início de uma nova conferência mundial do clima, que tem como objetivo começar a definir as regras de como vai funcionar o Acordo de Paris, a ONU faz um novo apelo aos países participantes, mas também aos setores não governamentais, para que aumentem seus esforços de combate às emissões de gases de efeito estufa.

Mesmo se todos os compromissos assumidos no âmbito do acordo foram cumpridos, eles vão representar apenas um terço do que o mundo necessita fazer até 2030 — prazo colocado nas metas —, tornando "extremamente improvável" conter o aquecimento do planeta a menos de 2ºC até o final do século. É o que aponta a 8ª edição do Emissions Gap Report, coordenado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), divulgado na manhã desta terça-feira (31).

O relatório trabalha com um conceito de "orçamento de carbono", que é um limite calculado de quanto carbono pode ser emitido sem aumentar demais a temperatura. Pelas contas, nesse ritmo, mesmo com todas as metas cumpridas, chegaremos a 2030 com cerca de 80% dessa conta já gasta.

O cenário fica ainda mais complicado se tentarmos ficar em 1,5ºC de aquecimento, como também indicado no acordo. Para essa temperatura, as emissões têm de ser obviamente menores. Mas, voltando ao orçamento de carbono, no ritmo atual, para este objetivo, ele já terá sido totalmente esgotado em 2030.

Todo ano uma equipe de cientistas internacionais mede a lacuna entre as ações que a humanidade está tomando para diminuir a quantidade de gases que aquecem o planeta que é lançada na atmosfera e o quanto de fato precisaria estar sendo feito para cumprir as metas estabelecidas a fim de evitar os piores cenários de mudanças climáticas.

A conclusão quase sempre é a mesma — é preciso acelerar as ações de curto prazo e melhorar as de longo prazo -— o que indica que, apesar dos avanços vistos nos últimos anos, eles ainda estão ocorrendo num ritmo muito lento. Para este ano, o grupo urge ainda para um melhor desempenho de setores privados e governos subnacionais.

Segundo a análise, essas ações deram uma estancada e não estão avançando para preencher essa lacuna de 70%. Por outro lado, alerta o relatório, os países também precisam repensar seus compromissos a partir de 2020 para melhorar esse cenário.

A fatia para os outros países pode ter de aumentar ainda mais se a saída dos Estados Unidos do acordo, anunciada pelo presidente Donald Trump neste ano, mas que só pode ser concretizada em 2020, de fato ocorrer.

"Um ano depois do Acordo de Paris ter entrado em vigor (ele foi fechado em novembro de 2015 e ratificado há um ano), ainda nos encontramos numa situação em que não estamos fazendo o suficiente para salvar centenas de milhões de pessoas de um futuro miserável", disse Erik Solheim, chefe da ONU Meio Ambiente, em comunicado à imprensa.

"Isso é inaceitável. Se investirmos nas tecnologias certas, garantindo que o setor privado esteja envolvido, ainda podemos cumprir a promessa que fizemos com nossos filhos para proteger seu futuro. Mas temos que entrar no caso agora", complementou.

O relatório lembra que as emissões de gases provenientes do setor de energia, especialmente o dióxido de carbono (CO2) têm se mantido relativamente estáveis desde 2014, especialmente por causa de investimentos em renováveis e eficiência energética e em melhorias de infraestrutura em países como China e Índia. E vem ficando mais baratas.

"Níveis recordes de energias renováveis foram adicionados em 2016 no mundo, por um investimento 23% menor que em 2015", escreve Solheim na abertura do relatório, que lembra ainda que hoje o setor emprega 8 milhões de pessoas, com mais novas vagas que óleo ou gás.

O relatório aponta, porém, que outros gases, como o metano (CH4) — emitido, por exemplo, pela pecuária —, ainda estão subindo. E uma eventual nova onda de crescimento econômico poderia voltar a alavancar as emissões de CO2.

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