Encerrada a vacinação em massa contra a covid-19 em Serrana (SP), no último dia 11, o Projeto S se aproxima agora da próxima etapa do programa: a análise dos resultados. Os primeiros dados serão revelados em maio.
A iniciativa do Instituto Butantan estuda a eficiência da CoronaVac na diminuição das taxas de transmissão novo coronavírus.
Na avaliação dos cientistas que se debruçam no estudo, a fase de imunização obteve sucesso no município. A adesão do público-alvo alcançou 97,9% ou 27.150 pessoas em uma população de 45.644 habitantes.
Outro dado visto com bons olhos pelos especialistas do projeto foi o número de mortes. Desde fevereiro, no início da pesquisa, houve 20 óbitos por covid-19 na cidade.
Destes, 14 foram pessoas que não tomaram a vacina. Das seis restantes, cinco tomaram somente a primeira dose. A única pessoa que foi imunizada duas vezes apresentou sintomas dois dias após a última aplicação, o que indica que foi infectada antes da vacinação.
À reportagem do R7, Ricardo Palacios, diretor-médico de pesquisa clínica do Butantan e um dos idealizadores do estudo, e Pedro Garibaldi, hematologista e coordenador médico do estudo, avaliaram a etapa da vacinação na cidade e explicaram os próximos passos para a pesquisa.
Garibaldi comenta que antes do início da imunização, após questionários feitos pelas equipes de pesquisa em Serrana, a expectativa de adesão era de 85% do público. Diante das fake news a respeito da CoronaVac e do que avalia como “desacordo entre poderes”, prossegue ele, os pesquisadores não esperavam um resultado tão alto na adesão à vacina.
“Mudamos de patamar: das dúvidas das pessoas sobre a eficácia da vacina para um momento que a população quer se proteger e proteger a família. Esse desacordo de poderes não aconteceu aqui: o discurso era o mesmo da prefeitura, da secretaria estadual e do Butantan”, afirma o coordenador do estudo.
Palacios também relembra mensagens negativas sobre a vacina, inclusive de autoridades, e diz que bons resultados em um estudo desse porte dependem essencialmente do envolvimento da comunidade. “Falamos com lideranças da cidade, comunitárias ou de outros âmbitos, para estimular a vacinação. Esse trabalho permitiu que a população se informasse, se apropriasse do projeto e, assim, se garantiu o sucesso do estudo”, diz o médico colombiano.
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Para ele, o projeto também serve para que a população compreenda que pode participar ativamente de avanços científicos no país. “Independentemente do estrato econômico ou de educação, todos podem participar. Sem o apoio da comunidade, não alcançaríamos qualquer resultado no projeto”, assegura Palacios.
Uma vez concluídas as medidas que envolvem intervenções junto à população, a próxima etapa será descobrir se a imunização em massa de fato atingiu o objetivo mais importante do projeto: reduzir a transmissibilidade do vírus no município.
A fim de que o estudo obtenha resultados mais robustos, os cientistas aguardam o início da próxima semana para começar a análise dos resultados da vacinação em massa. Isto porque o último grupo da cidade foi vacinado em 11 de abril e, para a pessoa imunizada gerar anticorpos contra o novo coronavírus, leva ao menos duas semanas.
Os coordenadores consideram que até o meio de maio os dados iniciais do estudo já devem ser divulgados.
Para uma resposta positiva, os primeiros indicadores, que também são uma meta do estudo, devem ser a redução de mortes por covid-19 e internações em leitos de UTI pela doença, apontam os especialistas.
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“Vamos acompanhar as internações e mortes por covid, que devem ter uma tendência decrescente importante assim que os imunizados tiverem anticorpos. Casos leves não são uma preocupação. Fazemos analogia com a vacina de influenza: não estamos focados em eliminar casos leves, o que queremos é evitar que adoeçam gravemente ou morram”, afirma Ricardo Palacios.
Além do baixo número de mortes recentes pelo vírus, das quais nenhuma atribuída à CoronaVac, os pesquisadores também apontam que não houve qualquer fato grave ao longo dos dois meses de imunização. “Fomos rigorosos com a vacinação das 27 mil pessoas, e assim não houve relato de qualquer inconveniente relevante”, diz Palacios.
Para além da vacinação e da análise de resultados, outro processo importante que começou no ano passado e não será interrompido é o monitoramento na cidade. Os cientistas do Projeto S farão vigilância por mais um ano da população vacinada e não vacinada, sobretudo com casos de morte e internação em decorrência do novo coronavírus.
“A análise dos dados é o mais importante nesse momento, mas ela vem de um projeto de vigilância que vai continuar. Aprimorada, ativa, com coleta de PCR... e isso continua. A parte da vacinação acaba, mas o estrutural para que os dados sejam organizados seguirá acontecendo”, diz Pedro Garibaldi.
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