Ao longo de décadas, vários países se moldaram em torno do petróleo e seus derivados, por se localizarem em regiões com jazidas ou contarem com infraestutura para extração e refino. O petróleo se tornou a principal fonte de energia da humanidade, principalmente por seu alto potencial energético.
Mas, diante da necessidade de mudança de matrizes energéticas, em função deste combustível não ser renovável e sua queima provocar o aquecimento global, estas nações calcadas na exportação petrolífera perceberam-se em uma encruzilhada. Estudo da BP (British Petroleum), em 2014, já previa o fim das reservas de petróleo até 2067, caso não fossem encontradas novas jazidas.
É difícil imaginar, por exemplo, países como a Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, cuja economia por anos se baseou no óleo, conseguirem sobreviver sem estas exportações. Além deles, nações como EUA, China e Rússia continuam dependentes desta fonte de energia.
No entanto, esses países começam a se mexer, em um momento no qual, por causa da pandemia atual, a demanda pelo petróleo registrou quedas entre 2019 e 2020 e, mesmo com recuperações pontuais, o mercado futuro não se mantém otimista.
Os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, já acumulam projetos alternativos, buscando se livrar da dependência do petróleo. Como membro da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o país é o 7º maior produtor mundial de petróleo, mas cada vez mais têm investido em tecnologia e energias alternativas, conforme exemplifica o professor Alexander Turra, do IOUSP (Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo).
"Na verdade, temos aqui algo interessante, países como Emirados Árabes Unidos estão há muito tempo, com base nos recursos e lucros com o petróleo, buscando alterar a sua atividade econômica para, por exemplo, ramos de alta tecnologia, comercial. No caso de Dubai há o turismo como atividade fortalecida. Na verdade, o petróleo e os benefícios que ele vem trazendo nas útimas décadas podem fazer com que esses países modifiquem suas fontes de energia sem necessariamente ter prejuízos, temos de entender isso como uma grande oportunidade", afirma.
No início de abril, Dubai sediou pela primeira vez a feira e conferência internacional Cybertech Global, que realizou sua 8ª edição.
Com apoio de um consórcio em Dubai, está sendo montado um projeto de geração de energia solar, o Parque Solar Mohammad Bin Rashid Al Maktoum.
A intenção é que, em Dubai, 7% da energia começasse vir de fontes renováveis já em 2020, com aumentos para 25% em 2030 e 75% em 2050. Fundos locais também têm investido mais de US$ 20 bilhões em energias renováveis.
Até a Arábia Saudita, até pouco tempo atrás a principal produtora de petróleo, está buscando alternativas. Segundo o The New York Times, o país estava investindo cerca de 7 bilhões de dólares no desenvolvimento de sete usinas solares e grandes fazendas eólicas. O governo comandado pelo príncipe herdeiro Mohamad Bin Salman tem por objetivo gerar até 10% de sua energia por meio de fontes renováveis, até 2023.
Nos últimos anos, no entanto, os combustíveis fósseis continuam sendo a principal matriz energética mundial, com petróleo e derivados representando 31,7%, carvão 28,1% e gás natural, 21,6%, segundo dados de 2018 da IEA (International Energy Agency). Energia da biomassa representava 9,3%, hidráulica, 2,5%, nuclear, 5% e as renováveis ainda eram apenas 2%.
China e Estados Unidos, porém, têm investido em energias renováveis. Na última década, a China foi a que mais investiu: 758 bilhões de dólares, segundo o Relatório da Situação Global das Renováveis de 2019, do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).
Os Estados Unidos foram o terceiro: 356 bilhões de dólares, atrás da Índia, que já tem cerca de 35% da energia produzida no país vinda de fontes renováveis. Turra acredita, no entanto, que a transformação poderia ser acelerada.
"Claro que em países como os Estados Unidos há grupos mais calcados e enraizados na economia baseada em combustíveis fósseis e têm feito uma pressão política, o que consolida algumas disputas internas que acabam fazendo com que esses movimentos globais de transformação sejam mais lentos", observa.
Turra afirma que o Brasil tem um papel central nesta frente, já que, além de poder desenvolver todo o lado tecnológico, é um país cujas características são extremamente propícias para a implementação da energia limpa.
"O Brasil pode ter um papel fundamental na redução da quantidade de gás carbônica na atmosfera em função da possibilidade de plantio na floresta, algo que paises como a Arábia Saudita não têm, por conta de se situarem em áreas muito mais áridas. O Brasil tem essa possibilidade e pode ser benefiado, valendo-se do mercado de carbono internacional e com isso trazer outros benefícios locais associados a sistemas florestais, utilizando assim os benefícios diretos e indiretos da florestas", ressalta.
Ele cita, por exemplo, o caso da Amazônia. O fato de haver chuvas no sudeste e centro-oeste brasileiros, vindas da evapotranspiração da vegetação na Amazônia, pode ser utilizado como recurso econômico. Isso se houver o planejamento, com base nas informações e pontecialidades.
"Temos de entender essas conexões, para entender que a floresta em pé é muito mais interessante do que cortada, porque a gente não precisa cortar para expandir a fronteira agrícola, além disso já temos muitas terras desmatadas e pouco utilizadas no país. Temos aí um caminho bastante lógico para trilhar na busca de soluções para essas questões relacionadas às mudanças do clima, redução do efeito estufa e de seus prejuízos para a biodiversidade e, principalmente, para as próprias atividades humanas e o bem-estar do planeta e do ser humano", completa.
Cidades completamente vazias na pandemia marcaram 2020
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