A pesquisa TIC Domicílios apontou que 59% dos brasileiros acessavam a internet em 2019 exclusivamente pelo telefone celular. O estudo indicou que a conexão estava disponível para 74% da população, o que correspondia a 134 milhões de pessoas, e em 71% dos lares no país.
O telefone celular foi praticamente “universalizado” entre os internautas brasileiros: 99% dos ouvidos relataram possuir o aparelho. Esta modalidade era menor até 2014, quando estava em 76% dos internautas, e se tornou a principal a partir de 2015.
Já o uso da internet por meio de computadores vem caindo. Em 2014, este era o meio mais comum, com 80%. Foi ultrapassado pelo celular e caiu pela metade deste então, chegando a 42% dos usuários de internet em 2019. Já o acesso pela televisão saiu de 7% em 2014 para 37% no ano passado.
Conforme a pesquisa, 90% dos brasileiros possuíam aparelho celular. Deste total, 62% contratavam planos pré-pagos. Nas classes D e E, este percentual sobe para 70%.
A dependência do celular varia bastante conforme as características socioeconômicas. Ela ficou em 79% na área rural e em 56% na urbana. Nas pessoas da classe A, o uso exclusivo era realidade para 11%, enquanto nas classes D e E era regra para 85% das pessoas. Na classe C, o índice também era alto, de 61%. O percentual também foi maior entre mulheres (63%) do que em homens (52%).
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Essa condição também difere no recorte por escolaridade: é de 90% para analfabetos ou pessoas que só estudaram até a educação infantil, 61% para quem possui ensino médio e 19% para quem obteve diploma de nível superior. Já na avaliação por idade, o índice fica maior entre os adolescentes (65%) e idosos (65%) e menor na faixa intermediária, de 16 a 59 anos (56%).
O coordenador do Cetic.br, responsável pela pesquisa, Alexandre Barbosa, observa como essa variação por renda impacta as experiências destes usuários. “É bom que tenha acesso, mas tem limitações para o desenvolvimento de muitas habilidades. Quem faz uso exclusivo do celular tende a ter um uso bem instrumental. Por exemplo: quando a gente avalia o uso múltiplo de dispositivos, o uso de governo eletrônico é maior. Aqueles pelo celular o patamar é 30 pontos a menos. Estamos caminhando no sentido de ter acesso amplo, mas não basta ter acesso”, disse.
De acordo com o pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp e da Rede de Pesquisas em Vigilância, Tecnologia e Sociedade (Lavits), Rafael Evangelista, há um efeito preocupante dessa dependência no uso. Isso porque há uma franquia limitada de dados e como os pacotes variam conforme a renda, um grande contingente contrata serviços com pouca capacidade, ficando relegado aos aplicativos gratuitos.
“As pessoas ficam reféns dos serviços grátis. Isso afunila para certas aplicações que fazem acordos com operadoras. Há uma concentração na informação muito restrita a certas aplicações, como WhatsApp. Tem problema que não consegue verificar a informação e não tem acesso livre, para que você escolha o que você está consumindo”, pondera, em referência ao problema da profusão de desinformação nas redes sociais.
A advogada e integrante do Comitê Gestor da Internet e da Coalizão Direitos na Rede Flávia Lefévre destaca que a franquia existe porque a infraestrutura disponível para acesso à internet tem limites. A União Internacional de Telecomunicações (UIT) estabelece a média recomendada de 1,5 mil usuários por antena. No estado de São Paulo, por exemplo, essa proporção varia entre 2,5 mil e 3,5 mil usuários por antena. Em alguns bairros de baixa renda da capital paulista, chega a 10 mil usuários por antena.
“A aposta que os governos fizeram de fazer a inclusão digital pela rede móvel está mostrando que leva a resultados indesejáveis e não inclui. Você vê que o uso principal é mensagem e redes sociais. Outros usos são poucos. As demais atividades estão circunscritas a classes A e B e C. Nesta pandemia, a gente está vendo estudantes de periferia com dificuldade de estudar em casa”, disse a advogada.
Para o presidente do Sindicato das Empresas de Telecomunicações (Sinditelebrasil), Marcos Ferrari, onde há competição e viabilidade para o investimento, a concorrência está permitindo uma melhoria da infraestrutura, como com o uso de fibra.
“Nas cidades menores, de baixo IDH [Índice de Desenvolvimento Humano], e em áreas menos favorecidas, há a necessidade de se ter políticas públicas que favoreçam a demanda (tributação menor), que incentivem o uso de recursos dos fundos setoriais para disponibilizar infraestrutura e que privilegiem nos editais de venda de licenças (como o 5G) compromissos de abrangência voltados à ampliação de backhaul óptico e infraestrutura de acesso”, defende.
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