Um cientista chinês no centro de um escândalo ético causado pelo que ele afirma serem os primeiros bebês editados geneticamente do mundo disse nesta quarta-feira (28) que está orgulhoso do trabalho e revelou que outra voluntária que fez parte da pesquisa está grávida.
He Jiankui, professor associado da Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul de Shenzhen, na China, discursou em um auditório lotado por cerca de 700 pessoas que participavam da Cúpula de Edição do Genoma Humano na Universidade de Hong Kong.
"Sinto-me orgulhoso deste caso. Muito orgulhoso", disse He ao ser questionado por vários colegas na conferência.
"Este estudo foi submetido a um periódico científico para análise", disse, sem identificar a publicação, e acrescentou que sua universidade não estava ciente de seu estudo.
He, que disse que financiou seu trabalho, minimizou as preocupações de que sua pesquisa tenha sido realizada em segredo, explicando que procurou a comunidade científica ao longo dos últimos três anos.
Em vídeos publicados na internet nesta semana, He disse ter usado uma tecnologia de edição genética conhecida como CRISPR-Cas9 para alterar os genes embrionários de duas gêmeas nascidas neste mês.
Segundo ele, a edição genética ajudará a protegê-las de uma infecção de HIV, o vírus que causa Aids.
Mas cientistas e o governo chinês rejeitaram o trabalho que He disse ter realizado, e um hospital ligado à sua pesquisa insinuou que sua aprovação ética foi falsificada.
O moderador da conferência, Robin Lovell-Badge, disse que os organizadores da cúpula não estavam cientes do assunto até ele vir à tona nesta semana.
A CRISPR-Cas9 é uma tecnologia que permite aos cientistas copiar e colar o DNA, o que desperta a esperança de curas genéticas de doenças -- mas também causa preocupações em relação à segurança e ética.
Na terça-feira, a Sociedade Chinesa de Biologia Celular emitiu um comunicado no qual repudiou fortemente qualquer aplicação de edição genética em embriões humanos para fins reprodutivos e disse que ela é contrária à lei e à ética médica na China.
Também na terça-feira, mais de 100 cientistas, a maioria chineses, disseram em uma carta aberta que o uso da tecnologia CRISPR-Cas9 para editar genes de bebês humanos é perigosa e injustificada. "A caixa de Pandora foi aberta", alertaram.
He disse que, inicialmente, oito casais se inscreveram para seu estudo e que um desistiu. Os critérios exigiam que o pai fosse HIV positivo e a mãe fosse HIV negativo.
0 comentários:
Enviar um comentário