"É extraordinário que uma molécula tão frágil quanto a ribose possa ter sido encontrada em uma matéria tão antiga".
A declaração é de Jason Dworkin, pesquisador do Centro Goddard da Nasa, agência espacial americana, um dos autores do novo estudo que confirma algo sem precedentes: a descoberta de açúcares essenciais para a vida em meteoritos.
A descoberta reforça a tese de que reações químicas em asteroides, dos quais muitos meteoritos se originam, são capazes de produzir um dos principais "ingredientes" para nossa existência.
A partícula descoberta por cientistas que pode mudar nossa compreensão do Universo
O que aconteceu nas horas seguintes à queda do asteroide que teria dizimado os dinossauros?
Se a hipótese estiver correta, o bombardeio de meteoritos nos primórdios da Terra pode ter contribuído para a origem da vida a partir do fornecimento de elementos básicos.
Os cientistas descobriram a ribose e outros açúcares essenciais, incluindo a arabinose e xilose, em dois meteoritos ricos em carbono chamados NWA 801 (encontrado em 2001 no Marrocos) e Murchison (que caiu em 1969 na Austrália).
A ribose é um componente essencial do ácido ribonucleico (ARN).
O ARN tem a função de uma molécula mensageira, que leva as informações genéticas do DNA (ácido desoxirribonucleico) até os ribossomos, as "fábricas" das células, que vão ler as instruções do ARN para produzir proteínas.
"Outros componentes importantes da vida já foram encontrados em meteoritos, incluindo aminoácidos (componentes das proteínas) e nucleobases (componentes do DNA e do ARN)", afirmou Yoshihiro Furukawa, pesquisador da Universidade de Tohoku, no Japão, e principal autor do estudo.
"Mas o açúcar era a peça que faltava entre os principais componentes básicos da vida."
"A pesquisa oferece a primeira evidência direta de ribose no espaço e da chegada desse açúcar na Terra. O açúcar extraterrestre poderia ter contribuído para a formação do ARN na Terra prebiótica que possivelmente levou à origem da vida", acrescentou a Nasa em comunicado.
Os pesquisadores descobriram os açúcares ao analisar amostras de pó dos meteoritos usando a técnica de espectrometria de massa por cromatografia gasosa, que identifica moléculas pela sua massa e carga elétrica.
A abundância de ribose e outros açúcares variou de 2,3 a 11 partes por bilhão no NWA 801, e entre 6,7 e 180 partes por bilhão no Murchison.
Os cientistas também consideraram a possibilidade de que os açúcares nos meteoritos sejam simplesmente produto da contaminação da vida na Terra.
Mas argumentam que a variedade de carbono no açúcar extraterrestre é diferente da encontrada na biologia terrestre.
O estudo, publicado na revista científica americana Proceedings of the National Academy of Sciences, respalda a teoria de que o ARN coordenava a engrenagem da vida antes do DNA.
De acordo com a Nasa, um dos grandes mistérios sobre a origem da vida é como a biologia emergiu de processos químicos não biológicos.
O DNA é o "modelo" da vida, que carrega instruções sobre como construir e operar um organismo vivo.
Mas o ARN também contém informações, e muitos cientistas acreditam que ele se desenvolveu antes e foi substituído posteriormente pelo DNA.
Isso se deve, de acordo com a Nasa, ao fato de que as moléculas de ARN têm capacidades que o DNA não possui.
O ARN pode fazer cópias de si mesmo sem a ajuda de outras moléculas e também é capaz de iniciar ou acelerar reações químicas como catalisador.
"O açúcar do DNA (2-desoxirribose) não foi encontrado em nenhum dos meteoritos analisados neste estudo", declarou Danny Glavin, do Centro Goddard da Nasa.
Os cientistas planejam agora analisar mais meteoritos para obter informações sobre a abundância de açúcar extraterrestre.
"Os resultados deste estudo vão guiar nossa análise de amostras primitivas dos asteroides Ryugu e Bennu, que serão trazidas para a Terra pela missão Hayabusa2 da Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (Jaxa) e pela espaçonave OSIRIS-REx da Nasa", disse Dworkin.
A expectativa é de que a sonda Hayabusa 2 retorne à Terra no fim de 2020, e a OSIRIS-REx em 2023.
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