Você vai ao cinema e pede uma pipoca. Enquanto o filme dura duas horas, o petisco não dura nem dez minutos.
É um exemplo de como ficamos diante dos alimentos chamados "hiperpalatáveis", cuja composição ativa mecanismos nos cérebro que postergam a sensação de saciedade — fazendo com que simplesmente não consigamos parar de comê-los.
Já foram feitos muitos artigos científicos e documentários sobre eles, mas um novo estudo publicado no periódico científico Obesity destaca que estes alimentos "têm sido definidos com termos descritivos, mas sem uma definição padrão".
Enquanto isso, no mundo dos leigos, é fácil identificar alguns alimentos com esse poder: batatas fritas, pizzas, hambúrgueres e sorvetes, entre muitos outros.
De 2000 a 2018, segundo o artigo na Obesity, o número anual de publicações sobre os alimentos palatáveis aumentou 550%, demonstrando o alto interesse pelo tema nas pesquisas sobre nutrição.
Os autores do estudo, da Universidade do Kansas, nos EUA, propõem agora um método mais certeiro para identificação dos hiperpalatáveis, focando nas informações nutricionais que podem ser observadas durante a compra.
"As descrições das comidas hiperpalatáveis são ao mesmo tempo muito genéricas ou muito restritivas. Por exemplo, uma descrição sugere que se trata de qualquer alimento adquirido em uma rede de fast food. No entanto, alguns desses lugares também vendem saladas ou alimentos grelhados, que não são o mesmo que um hambúrguer com queijo", diz um trecho da publicação.
Assim, com definições tão genéricas, há alimentos hiperpalatáveis que acabam não entrando na categoria de perigosos ou viciantes porque não estão em redes de fast food.
Os autores criaram três categorias combinando informações sobre a presença de gorduras, açúcares e sódio. Assim, alimentos hiperpalatáveis são aqueles com:
25% ou mais das calorias vindas de gorduras e mais de 0,3% do peso constituído de sódio; Mais de 20% das calorias vindas de gorduras e outra porcentagem superior a 20% de açúcares; Cerca de 40% das caloridas constituídas de carboidratos e mais de 0,2% do peso constituído de sódio.
Os alimentos ricos em sódio, açúcar e gorduras aumentam a propensão a obesidade, hipertensão arterial e diabetes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Com a categorização, os pesquisadores analisaram mais de 8 mil alimentos vendidos nos Estados Unidos. Destes, 62% preenchiam os requisitos destas categorias, como pizzas, alimentos fritos e doces.
Os pesquisadores também destacaram que alimentos pouco gordurosos também podem ser hiperpalatáveis, como os vegetais preparados em molhos ou cremes.
"Os resultados sugerem que o método de preparação e processamento da comida é chave para determinar sua hiperpalatabilidade, e não apenas o produto em si", diz o estudo.
Nesse sentido, os autores advertem para o uso do sal como realçador de sabor, mas que tem como consequência a provável maior dependência disso. Eles também apontam que a combinação de ingredientes é o que muitas vezes determina a hiperpalatabilidade de um produto.
O estudo reconhece algumas de suas limitações, como a concentração em alimentos sólidos, mas desta que serve para que "as pesquisas validem uma definição específica e quantitativa dos hiperpalatáveis".
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