Você ouve EVA antes de vê-lo. Um ruído lhe dá as boas vindas quando você entra na sede da Automata, uma startup sediada em Londres.
Deparo-me com um braço robótico realizando um complexo conjunto de movimentos: seis articulações girando em uma sequência para colar uma etiqueta em um pacote.
Esse é EVA. Por meses a fio, o robô vem fazendo esses movimentos sem parar para testar sua confiabilidade.
Espalhadas pelo escritório e pela oficina, há mais de uma dúzia de outras unidades de EVA, algumas sendo desmontadas pelos engenheiros, outras aguardando testes.
Deve ser muito assustador à noite, pois EVA continua seu trabalho, simulando colar etiquetas, enquanto está cercado por seus clones silenciosos.
Esse braço robótico foi concebido pelo ex-arquiteto Suryansh Chandra e de seu sócio Mostafa Elsayed.
"Começamos com a intenção de democratizar a robótica, de tornar a automação disponível e acessível a tantas pessoas quanto necessário", diz Chandra.
Eles apostam que existem milhares, senão milhões, de empresas menores cujas atividades requerem tarefas repetitivas.
No entanto, muitas delas não podem comprar um grande robô industrial.
Nesse sentido, o EVA foi desenvolvido a partir de peças confiáveis e baratas. Ele usa os mesmos motores que alimentam as janelas elétricas nos carros, enquanto os chips de computador são semelhantes aos usados no setor de eletrônicos de consumo.
Com o barateamento dos custos, o EVA pode ser vendido por 8 mil libras (R$ 45 mil).
"Se eu fosse fazer uma analogia, é como se estivéssemos em um mundo com vários carros de luxo. Tudo é rápido, poderoso e preciso, mas não há um Toyota. Não há um carro para pessoas comuns", diz Chandra.
A Automata faz de um pequeno grupo de empresas tentando encontrar um mercado mais amplo para robôs e revolucionar a maneira como as coisas são feitas.
Mais de 2,4 milhões de robôs industriais estão operando em fábricas em todo o mundo, de acordo com dados da Federação Internacional de Robótica (IFR), que prevê um crescimento de vendas de dois dígitos de 2020 a 2022.
Atualmente, a maioria dos robôs realiza trabalhos repetitivos em grandes fábricas, produzindo carros, eletrônicos e metal.
Esses braços industriais gigantes há muito são poderosos e precisos, mas carecem de adaptabilidade.
No entanto, agora, os avanços em inteligência artificial, juntamente com a tecnologia de visão aprimorada e os melhores dispositivos para manuseio, estão abrindo novos mercados.
As compras online abriram uma oportunidade interessante para o setor. Nos armazéns gigantes, milhões de objetos de diferentes formas e tamanhos precisam ser classificados e movimentados.
Para substituir os humanos neste mercado em crescimento, os robôs precisam ser capazes de reconhecer e segurar todos os tipos de itens diferentes.
"Algo que uma criança pode fazer com facilidade, como alcançar uma lixeira e pegar um item, é realmente difícil para um robô. Foi necessária muita tecnologia para tornar isso possível", diz Vince Martinelli, da RightHand Robotics, empresa sediada nos EUA.
A RightHand Robotics foi uma das primeiras a desenvolver uma pinça que pudesse ser montada na extremidade do braço do robô, permitindo que ele pegasse itens de tamanhos diferentes.
Para segurar itens, o braço robótico emprega um dispositivo de sucção e três dedos. Primeiro, esse sugador aumenta de tamanho para pegar o item e, depois, os três dedos o prendem.
Ele usa uma câmera ligada à inteligência artificial para identificar e localizar o objeto que deseja.
O crescimento vertiginoso nas compras online criou uma demanda por esse tipo de tecnologia; somente a Amazon investiu centenas de milhões de dólares em tecnologia para seus armazéns.
"Quando vou a uma loja, tenho à disposição minha 'mão de obra'. Ando pela loja pegando as coisas que quero. Ao fazer um pedido online, entretanto, eu devolvo essa tarefa ao varejista, é ele que tem de se virar para que esse item chegue à casa do consumidor", diz Martinelli.
A Soft Robotics, também sediada nos EUA, está buscando a solução para o mesmo problema, embora de uma maneira diferente.
Sua mão robótica tem dedos de borracha que se enchem de ar, permitindo que eles manuseiem itens delicados de comida, como biscoitos e doces.
"A indústria de alimentos é quase inteiramente manual hoje, porque cada pedaço de comida, cada bisteca de frango, seja o que for, varia em tamanho e forma. Também preciso prestar atenção à segurança e limpeza de alimentos", diz Carl Vause, CEO da Soft Robotics.
Vause diz acreditar que a tecnologia de sua empresa também pode ser empregada na indústria do vestuário.
Embora esses sistemas ofereçam maior habilidade aos braços robóticos, sua destreza ainda fica muito aquém da mão humana.
Pesquisadores do Laboratório de Robótica de Bristol (uma parceria entre a Universidade do Oeste da Inglaterra e a Universidade de Bristol) acham que o grande avanço seria dar às mãos dos robôs uma sensação de toque.
O professor Nathan Lepora, chefe do grupo de robótica tátil, desenvolveu sensores de borracha que podem detectar e mapear superfícies.
O sistema usa uma câmera dentro de cada "dedo" que detecta como a ponta de borracha se projeta e se move ao tocar em um objeto.
Usando um tipo de inteligência artificial chamado aprendizado de máquina, o robô é treinado para reconhecer objetos apenas tocando-os e vendo como a ponta de borracha responde.
Lepora acha que, até o final desta década, os robôs poderão manipular itens, montar objetos e mexer da mesma maneira que os humanos fazem com as mãos.
"É apenas um desafio de engenharia no final do dia. Não há nada mágico em como usamos nossas mãos", diz ele.
Com futuros avanços em hardware robótico e inteligência artificial, robôs poderão realizar cada vez mais tarefas que atualmente são executadas por seres humanos.
Segundo um relatório da OCDE , 14% dos empregos estão "em alto risco de automação" e 32% deles podem ser "radicalmente transformados", com o setor de manufatura em maior risco.
É um tópico delicado para quem trabalha na indústria de robótica e para empresas que usam robôs.
Chandra argumenta que sua tecnologia eliminará trabalhos repetitivos e chatos dos quais os humanos não gostam e em que não são muito bons, além de criar novos que provavelmente os substituirão.
"Definitivamente, existem dezenas de milhares de novos empregos em nossa sociedade que não existiam antes. Então, acho que falar em estabilidade de empregos é uma ficção, nunca foi realmente assim", diz ele.
"Toda vez que um emprego desaparece, há uma reação emocional... mas isso abre espaço para a criação de outros".
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