A fumaça emitida em queimadas da floresta amazônica tem a capacidade de provocar danos no DNA das células pulmonares humanas levando à sua morte. Mesmo as que sobrevivem podem sofrer mutações com potencial de evoluir para um câncer de pulmão.
Essa é a principal descoberta de uma pesquisa brasileira publicada nesta quinta-feira (7), na revista Scientific Reports. Os autores, liderados pela bióloga Nilmara de Oliveira Alves, da USP, avaliaram os efeitos em células pulmonares expostas a concentrações de poluentes iguais às encontradas em locais com queimadas na Amazônia.
O grupo que reuniu pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo), da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) observou que partículas finas e ultrafinas emitidas nas queimadas — que, por seu tamanho diminuto, são capazes de penetrar nos alvéolos pulmonares —, provocam uma inflamação alta seguida de estresse oxidativo, que pode levar a autofagia (suicídio celular) e lesões no DNA. Esse quadro pode fazer com que as células se reproduzam desordenadamente a ponto de levar à formação de câncer.
Estudos anteriores já tinham constatado que todo ano, nos meses de setembro e outubro, os de seca, quando os focos de incêndio disparam na Amazônia, uma nuvem de fumaça cobre a região causando problemas respiratórios na população. Cerca de 10 milhões de pessoas vivem na região.
A pesquisadora Sandra Hacon, da Fiocruz do Rio, co-autora do novo trabalho, havia encontrado uma forte associação entre queimadas e efeitos na saúde a partir de análise de dados do SUS e concentração de poluentes, mas ainda não se conheciam os mecanismos de ação dos poluentes.
Para a nova pesquisa foram coletadas amostras de fumaça na região de Porto Velho (RO), uma das mais afetadas por incêndios na Amazônia. Foi usado um filtro que simula a respiração humana, explica Nilmara. Ele aspira os poluentes e filtra as partículas finas e ultrafinas.
Linhagens de células pulmonares foram, então, submetidas in vitro aos poluentes em concentrações semelhantes às encontradas nas áreas de queimadas. O estudo mostrou que após 72 horas de exposição a material particulado ultrafino, de 10 micrômetros (MP 10), mais de 30% das células em cultura já estão mortas.
Isolando os componentes do material particulado, os pesquisadores descobriram que uma substância em particular, o reteno, age provocando o dano às células, o que o torno um forte candidato para ser o responsável por essa ação da fumaça proveniente de queima de biomassa.
0 comentários:
Enviar um comentário