20/06/2018

Dermatologista Katleen Conceição dá lição de beleza para negras

Dra. Kat virou referência em cuidados para pele negra do País
Dra. Kat virou referência em cuidados para pele negra do País Divulgação

Qual é a cor da sua pele? Nem toda brasileira é capaz de se encontrar em uma cartela que pode chegar a 35 tons diferentes. No caso das peles mais escuras, assumir que faz parte de uma etnia fadada ao preconceito fica pior ainda.

Mas está em curso um movimento, liderado por jovens negras, que incentiva mulheres a assumirem e aceitarem sua cor. Da mesma forma como ocorreu com os cabelos crepos, afro e cacheados, a tendência é de que a cor de pele também passe a ser um poderoso instrumento de empoderamento. 

A constatação ganha aval de uma das profissionais mais bem sucedidas do País na área de beleza negra. Katleen da Cruz Conceição, também conhecida como dra. Kat, é a única dermatologista do País especializada em peles negras.

Ela desenvolveu, com muito estudo, pesquisa e testes em si mesma, tratamentos que atendem questões dermatológicas que têm maior incidência em peles escuras. 

— Muitos colegas tinham medo de atender pessoas negras e mandavam pra mim. Pensavam: ela é negra, deve saber. Mas nem tudo eu conseguia diagnosticar. Fazia laser em mim, me queimei, fui testando. Já são 20 anos estudando isso.

Atualmente, a dra. Kat chefia o setor de pele negra da clínica dermatológica Paula Belloti e o ambulatório de pele negra da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, onde chega a atender 60 pessoas carentes por dia, com doenças dermatológicas. No outro extremo, Katleen também possuiu uma lista de pacientes-celebridade, como Taís Araújo, Lázaro Ramos, Preta Gil, Izabel Fillardis, Cris Vianna e Thiaguinho. 

— Eu amo ser médica. O paciente famoso me deu a notoriedade, mas quero que as pessoas tenham acesso às informações.

Segundo a médica, a maior parte da população negra sequer tem noção de que existem tratamentos para suas principais queixas, como  manchas, tanto no rosto quanto no corpo, marcas de picada de mosquito, queloide, pele ressecada, melasma. A pele mancha com mais facilidade por ter mais melamina. As pessoas não sabem que é possível fazer laser, peeling, usar o ácido glicólico.

A blogueira Sah Oliveira, digital influencer na área de beleza negra, relata que, como ela, muitas mulheres negras têm medo de procurar profissionais, exatamente pelo receio de usar ativos que possam ser prejudiciais. 

Pacientes famosos e carentes merecem o mesmo cuidado
Pacientes famosos e carentes merecem o mesmo cuidado Divulgação

A dra. Kat se empenha em fazer um atendimento profundo e analisar o cliente da cabeça aos pés.

— Eu oriento o paciente e mostro quais as possibilidades de tratamento. Estrias, por exemplo. A maioria acha que não tem como melhorar, mas tem sim, o laser fracionado. 

Katleen acredita que há uma questão mais profunda envolvendo a distância do paciente negro dos consultórios.

— Os médicos brasileiros acham que paciente negro não vai gastar, não enxergam essa população como consumidora. Eu sei que mesmo a pessoa mais carente irá se organizar e gastar para ter acesso a uma tecnologia mais eficaz.

Essa noção de que negros não são consumidores leva também a uma falha no mercado de produtos. Nos Estados Unidos já há linhas específicas para peles negras, mas isso ainda é incipiente no Brasil.

— Eu sou negra, todo mundo no Brasil tem essa necessidade. Um protetor solar, um gel creme, um sérrum, um hidratante bem denso para o corpo. O problema é que acham que o negro não tem dinheiro para comprar... 

Dra. Kat também defende que é preciso perder o medo de se falar em pele negra como se fosse uma ofensa. 

— Meu pai me criou desta forma. Nunca dei bola se alguém me chamava de feia. Aprendi a ser a menina mais linda do mundo, porque meu pai trazia dos congressos a revista Ebony, minha referência era a Tina Turner, nunca quis ser Xuxa. Hoje em dia há mais referências. Mas a gente vê os produtos, as propagandas, é todo mundo loiro, de olho azul e rico. Não me representa.

Em sua opinião, a presença das influenciadoras digitais nesse segmento é fundamental. Trata-se de representatividade. 

— Tem de ser gente real, veja o que aconteceu com as crepas e cacheadas. Sou uma pessoa pé no chão, não sou médica blogueira, sou amiga dos meus pacientes. Sou acessível. Atendo todos da mesma forma. 

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