Fã de videogame e jogador de games de futebol nas horas de lazer, o frentista Jefferson Luis de Souza Santana, 29, foi surpreendido pelo adversário virtual na última segunda-feira (18). O detalhe é que Jefferson não perdeu a partida nem levou gol.
"O jogo acabou 2 a 1 para mim e não teve nada de mais durante a partida, foi tudo normal. Do nada, eu recebi uma mensagem me xingando. Depois ele [o rival virtual] me chamou de 'macaco' e enviou uma banana [um emoji de banana]. Eu tentei falar com ele, mas não tive nenhuma resposta", relata.
Casos como o de Jefferson, que configuram injúria racial e estão sujeitos às penas da lei, se tornam cada vez mais comuns entre os jogadores de games de futebol, que permitem a interação online entre os adversários.
"As pessoas estão procurando maneiras de expressar a raiva pelo mundo virtual. Agora nem jogando videogame estamos seguros", explica o rapaz, que ainda tenta entender o porquê de ter passado por tal situação.
O advogado e reitor da faculdade Zumbi dos Palmares, Dr. José Vicente, explica quais são as medidas que a vítima deve tomar.
“O mais adequado é juntar todas as informações, como a mensagem recebida na conversa, e se dirigir a uma delegacia para fazer um boletim de ocorrência. A injuria racial é crime com pena de 1 a 3 anos de prisão", explica.
Casos como o de Jefferson estão acontecendo com mais frequência, de acordo com o reitor. "O que mais tem acontecido hoje são casos de injurias raciais pelos meios digitais. Nós estamos preocupados com a intensidade e a amplitude desses atos que muitas vezes usam do anonimato da internet”, diz.
Jefferson, cujo caso foi contado no início desta reportagem, é categórico: "Não podemos nos calar temos que falar. Uma democracia é feita de respeito e atitudes sócias temos que dizer não à injúria racial virtual".
Jogadores profissionais
O vencedor do prêmio Puskas de gol mais bonito em 2015, ex-jogador de futebol profissional Wendell Lira, decidiu trocar os gramados pelos controles de videogame. Em entrevista ao R7, Lira relata que ele próprio já sofreu ofensas em partidas online de futebol.
"Comigo já aconteceu, principalmente quando o adversário é um argentino. Quando eles percebem que somos brasileiros, ofendem mesmo", revela.
Lira afirma que os xingamentos são recorrentes e que os usuários não têm nenhuma restrição no que podem escrever durante as partidas.
"Isso é muito difícil de controlar no mundo dos games, porque o chat não tem nenhum recurso para impedir essas ofensas. Infelizmente, nós ainda encontramos muito preconceito nos videogames", explica o agora jogador profissional e videogame.
O trauma das ofensas
Decepcionado, Jefferson disse que enviou um e-mail para a Microsoft, responsável pela plataforma de videogame em que ocorreram as ofensas. Mas não obteve retorno. A dificuldade em entrar em contato com a empresa, motivou uma outra saída.
"Eu quero montar um grupo dentro da plataforma de videogame da Microsoft para as pessoas denunciarem esse tipo de comportamento. Nós não podemos ficar calados", explica.
O episódio fez ele perder o interesse pelo games e ficar mais preocupado quando as filhas estão jogando.
"Para mim, jogar videogame perdeu a graça. Eu não estou mais jogando e acho que vou vender. Eu jogava com as minhas filhas e agora tenho até medo de deixar elas jogando", explica.
O R7 tentou entrar em contato com a Microsoft e com a Sony, responsáveis pelos videogames XBox e Playstation, mas não obteve respostas até o fechamento da matéria.
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