08/10/2018

Desfile com pacientes celebra o Outubro Rosa: "Um potinho de vida"

Para celebrar o Outubro Rosa, pacientes em tratamento de câncer de mama no Hospital Pérola Byington viveram, na sexta-feira (5), seu dia de modelo. Realizado em parceria com a Universidade Anhembi, o evento reuniu 26 mulheres e um homem, que  apresentaram, na passarela, criações feitas com exclusividade por alunos, ex-alunos, professores e voluntários, resultado do projeto LabModAR

A emoção está em cada olho maquiado, em cada cabelo arrumado, na autoestima recuperada. Entrar no backstage do Desfile da Primavera é um sopro de vida

Todos os envolvidos se empenham para que a experiência dê aquele ânimo extra a quem enfrenta a doença de cabeça erguida

A professora Regina Barbosa Ramos, coordenadora de desenvolvimento e criação do projeto, explica que a parceria se formou há oito anos e hoje se traduz em um trabalho coletivo, co-criativo, para a produção não só da coleção, mas do evento como um todo.

 — Quando o pessoal do hospital nos procurou, desde o início adoramos a ideia. Mas as peças que nossos alunos produziam eram um manequim pequeno (36-38). Seria mais fácil e interessante produzirmos peças para vestir as pacientes

A partir daí, um grupo pequeno de professores abraçou a causa e passou a fazer não apenas a coleção (a partir do reuso das peças de roupa das próprias pacientes), mas também um figurino para um grupo de pacientes que participam de aulas de dança e expressão corporal promovidas no hospital

Alunos de diferentes cursos participam do projeto. Os do cursso de Visagismo ficam responsáveis pela beleza do desfile 

Para Regina, o projeto tornou realidade questões que já estavam em pauta na Universidade. 

— Nós já vínhamos discutindo a diversidade, sustentabilidade e padronização de beleza, costumes e comportamentos e como os designers poderiam contribuir para discutir esses temas

Foi fundado um coletivo, que é um projeto de extensão que nasce do Bacharelado em Design, chamado LabModAR, hoje responsável por realizar o Projeto Pérola

O trabalho é feito com o mínimo desperdício de material e com doações de confecções e tecelagens, e conta com a participação dos cursos de Visagismo e Beleza e também da Produção Musical, além dos bacharelados em Design e Negócios da Moda

Linda Jade, ex-aluna de Moda e hoje responsável pelo styling, ressalta que é o trabalho de um ano inteiro, feito especificamente para as pacientes. 

— É o dia de fazer tudo para elas, com elas. Aqui não existe mau humor ou baixo astral. O dia é para elas e sempre dá tudo certo 

O desfile da primavera já existe há 14 anos, sendo que há 8 conta com a parceria da Universidade

Carmelina Amadei e Luciana Scaramuzzi, representantes do Pérola Byington, explicam que o projeto é uma forma de aumentar a autoestima das pacientes, resgatar a feminilidade e auxiliar no tratamento

Desta edição, participaram 26 mulheres e um homem, cada um com sua luta contra a doença, mas todos unidos em favor da conscientização e da prevenção do câncer de mama

Primeiro homem a participar do evento, Paracelso Vieira Jr, de 63 anos, faz questão de ser um porta-voz para alertar sobre o câncer de mama em homens. 

“Não existe prevenção sem conscientização”, alerta o paciente, cujo diagnóstico demorou a ocorrer por desconhecimento, inclusive dos profissionais de saúde, de que a doença também vitima homens.

“Homem pensa que não tem mama, desprezaram o pedido para que eu passasse em um mastologista, acharam que era médico de mulher. É preciso ter informação para se prevenir. Eu sou o outubro rosa”, avisa 

Aos 78 anos, Aparecida Ceravolo Bocalon participa do desfile desde a primeira edição e se sente orgulhosa de fazer parte do projeto.

“Quando recebi o diagnóstico, foi como uma sentença de morte. Entendi que o que você tem de passar, ninguém vai passar por você. Decidi que eu não nasci com essa doença e vou tirar ela de mim.” 

Para Cidinha, como é conhecida, o desfile é um banho de autoestima. “Eu me sinto o máximo, é meu dia de fama, de glória” 

Eunice Pereira Santos, de 63 anos, também é veterana no projeto e desfila desde 2010. E se emociona ao traduzir o que sente ao participar.

“Esse desfile é um potinho de vida. A gente está doente, mas não adoece.”

Fernanda Rocco, de 37 anos, descobriu o câncer de mama em 2017, um mês depois de se casar. E resolveu participar pela primeira vez do evento.

“Desde que soube da doença, criei um blog (Câncer com Felicidade) e relato meu dia a dia. Também quis vivier e mostrar essa experiência.” 

Para Alessandra Tavares, de 31 anos, que participa do desfile desde que convive com a doença, há três anos, estar na passarela faz com que se sinta muito bem.

“Essa sensação boa, de se sentir bonita, com mais autoestima, a gente leva para a vida."

O desfile é marcado por muita emoção, tanto na passarela como na plateia 

As roupas são concebidas por alunos, ex-alunos, professores e ex-professores do curso de Design de Moda 

As criações são coletiivas e cada voluntário colabora na criação, na modelagem, no corte e na costura

Os acessórios foram desenvolvidos a partir de materiais recicláveis 

Sacolinhas de supermercado viraram bolsas e viseiras 

Aneis e pulseiras também tiveram a sustentabilidade como regra 

Ao final, pacientes e familiares se confraternizaram para celebrar o Outubro Rosa e a importância da prevenção da doença 

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