31/05/2019

Roblox: 'Achava que era um jogo inocente, mas meu filho estava sendo assediado por pedófilos'

Plataforma Roblox permite que se criem jogos e compartilhem-nos em comunidade online; uma mãe conta, porém, que seu filho foi induzido a mandar fotos de si mesmo sem roupa
Plataforma Roblox permite que se criem jogos e compartilhem-nos em comunidade online; uma mãe conta, porém, que seu filho foi induzido a mandar fotos de si mesmo sem roupa Roblox

A britânica Sarah (nome fictício) tomou precauções quando seu filho pré-adolescente começou a usar o Roblox, plataforma de games online voltada a jovens, em que jogadores podem criar seus próprios jogos e conectar-se com os demais 90 milhões de usuários espalhados pelo mundo.

Sarah acionou os dispositivos de controle parental, para proteger a privacidade de seu filho online e impedir que ele conseguisse enviar mensagens para terceiros.

Parecia, diz Sarah, que seu filho passava o tempo jogando "games inocentes". Até que ela começou a notar mudanças de comportamento da criança: ele se retraiu e deixou de participar de atividades familiares de que antes gostava.

Quando ela checou o histórico do filho no Roblox, descobriu que ele vinha se comunicando com outros usuários por intermédio de um aplicativo feito por terceiros - e que havia sido induzido a mandar fotos sexualmente explícita de si mesmo para outras pessoas.

"Vimos algumas fotos e foi horrorizante", diz a mãe. "Eles estavam falando (nas mensagens) sobre estupro. Sobre atividades sexuais que eram pornográficas."

Consultado pela BBC, o Roblox afirmou que não poderia comentar episódios individuais, mas se disse comprometido a proteger a segurança de crianças em sua plataforma. Mas afirmou, também, que embora seu chat próprio tenha filtros, "é importante saber que existem chats (feitos por terceiros), particularmente os que parecem ser parte do jogo que estiver sendo jogado" pelo usuário.

John Staines e John Woodley dizem que a maioria dos pais não se dá conta que seus filhos podem estar sendo contactados por estranhos durante games, a despeito de barreiras de controle parental
John Staines e John Woodley dizem que a maioria dos pais não se dá conta que seus filhos podem estar sendo contactados por estranhos durante games, a despeito de barreiras de controle parental BBC

Segundo o ex-policial britânico John Woodley, outros pais e crianças têm vivenciados situações semelhantes à de Sarah e seu filho.

Ele visita escolas do Reino Unido com seu colega John Staines advertindo crianças sobre o lado negativo e perigoso dos jogos online, e diz que a maioria dos pais não sabe que, a despeito das ferramentas de controle parental, seus filhos podem estar sendo contactados online por pessoas estranhas.

Por aplicativos de chat feitos por terceiros, essas pessoas "conseguem que elas (crianças) mandem fotos e mantenham um diálogo".

De seu lado, a Roblox afirma que jogadores têm canais internos para relatar comportamento impóprio e que usuários acusados de crimes do tipo podem ser suspensos ou ter sua conta removida.

No entanto, muitas vezes as crianças não percebem que estão sendo vítimas de abuso nessas situações, e por isso não reportam essas irregularidades às plataformas, avalia Amanda Naylor, especialista em proteção sexual de crianças da ONG britânica Barnardo.

Por conta disso, ela opina que plataformas como a Roblox têm de aumentar suas barreiras de proteção, enquanto os pais devem aumentar sua atenção à atividade online das crianças.

Por fim, diz Naylor, crianças vítimas desse tipo de abuso devem receber apoio especializado, já que experiências como as vividas pelo filho de Sarah podem impactar suas relações pessoais futuras.

Denúncia à polícia

Sarah conta que denunciou o caso a polícia britânica, que pediu o acesso aos IPs dos computadores das pessoas que seduziram seu filho. Segundo Sarah, esse pedido foi negado pela empresa americana.

A BBC entrou em contato com os policiais do caso, que disseram que têm autoridade de investigar crimes ocorridos apenas em solo britânico — e o problema é que as pessoas que contactaram o filho de Sarah estão no exterior.

Embora o caso de Sarah seja extremo, a plataforma de games já despertou outras preocupações.

No ano passado, uma mãe americana descreveu, no Facebook, seu choque ao ver o avatar com que sua filha jogava ser "vítima de estupro coletivo" por outros avatares de jogadores.

A Roblox afirmou que baniu o jogador que comandou a ação.

Iain conta que avatares — em tese, voltados para crianças — realizam atos sexuais
Iain conta que avatares — em tese, voltados para crianças — realizam atos sexuais BBC

Iain, um pai britânico, viu cena semelhante quando assumiu o controle do avatar usado por seu filho na plataforma.

Ele contou à BBC que um jogador lhe pediu que deitasse seu personagem. Esse personagem, então, ficou sob outro, que se movia de modo sexual "e nojento", segundo Iain.

Quando ele tentou interromper a "brincadeira", o outro jogador ameaçou se matar.

Assim como Sarah, ele diz que reportou as irregularidades ao Roblox, mas não recebeu resposta.

A empresa, por sua vez, diz que tem moderadores trabalhando 24 horas por dia para remover conteúdo impróprio.

Sarah diz que seu filho ainda está "muito mal" com o que aconteceu.

"Ele está quebrado, e nós também. É devastador", diz. "Nunca vou conseguir tirar aquelas fotos e palavras da minha cabeça."

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