04/10/2017

Tabus ainda são inimigos das mulheres na busca por prazer

Reprodução/Instagram

"Eu acho que tive um orgasmo." A que frase ecoa com frequência nas salas onde a fisioterapeuta pélvica Ana Cristina Gehring realiza palestras sobre sexualidade para mulheres reflete uma realidade assustadora. Muitas das frequentadoras de seu consultório e de seus cursos desconhecem o próprio corpo, a ponto de não conseguir identificar reações de prazer.

Especialista no tratamento de disfunções sexuais femininas e masculinas, Ana Cristina trabalha encorajando mulheres a descomplicar sua sexualidade. Faz isso começando pelo bê-a-bá, explicando a anatomia do prazer feminino e falando sobre o ciclo da resposta sexual, questões que ainda geram dúvidas e curiosidade. 

— A maioria chega com disfunções sérias. São mulheres jovens que morrem de medo ter relação sexual, apavoradas mesmo. Mostro como vagina funciona por dentro, o que é normal, o que esperar. A maioria nunca se masturbou e acredita que o vai e vem do pênis é suficiente para desencadear um orgasmo. E fica esperando o orgasmo como se fosse uma ejaculação. O mais importante é não ter comparativo, entender que cada mulher é única. 

As fantasias em torno do popoarismo também motivam muitas mulheres a buscar a fisioterapeuta, que vai logo desmistificando o tema. 

— A fisioterapia pélivica trabalha força e resitência, em quatro semanas consegue fortalecer a musculatura. É, é possível aprender a massagear o pênis, mas não existem malabarismos, isso de jogar bolinha longe. As mulheres são muito reprimidas, aprendem desde muito cedo que a vagina é algo feio, sujo, não pode tocar, não pode encostar. Tudo isso acaba levando a muita disfunção sexual. 

Queixas principais

Em sua experiência clínica, Ana Cristina identifica quatro grandes queixas das mulheres quando o assunto é sexo: dificuldade de lubrificação, dificuldade de sentir prazer no canal vaginal, dificuldade de atingir o orgasmo e dor na relação sexual. E garante que com as palestras e, em alguns casos, tratamento, o resultado é transformador.

— Quando os casais passam a entender as grandes diferenças na excitação masculina e feminina a relação fica mais suave, por exemplo. Mulheres são fogão a lenha... até a brasa se formar demora. Mas depois que formou, pode durar uma noite inteira, claro, se devidamente estimulado, e, com consequência, possibilitar orgasmos múltiplos.

Conhecer o próprio corpo é o primeiro passo para uma sexualidade plena
Conhecer o próprio corpo é o primeiro passo para uma sexualidade plena Reprodução/Instagram

Consultora de eventos para mulheres, Alécia Rocha é responsável pela organização de algumas palestras das quais Ana Cristina Gehring participa, e garante que a abordagem da sexualidade pelo viés da saúde e da educação reduz os tabus e atrai participantes. 

— Há muita resistência, mas as mulheres também têm muita curiosidade. A gente consegue ter uma entrada muito mais legal ao falar de bem-estar, consciencia corporal e saúde íntima. Ainda ligam muito a sexualidade à pornografia, a algo erotizado, mas é falta de informação. E há os tabus: não podem falar claramente sobre sexo, em qualquer lugar, a qualquer hora. 

O público, normalmente formado por mulheres jovens, entre 25 e 40 anos, mistura solteiras, casadas, mulheres bem-resolvidas profissionalmente, mas com muitos conflitos de auto-estima. Há as que estão "voltando ao mercado" e, em comum, muita sexualidade reprimida, e muito desejo de se satisfazer ou sair da rotina. Buscam saber mais sobre o tema para melhorar uma relação que já existe, ou para a vida delas.

— Me sinto bem vitoriosa quando elas entendem que a sexualidade só vai acabar com quando elas morrerem. Muitas chegam na defensiva, dizendo "não preciso disso ou estou velha pra isso". Essa redescoberta de ela pode ser uma mulher ativa é muito legal. A cada relato, eu sinto que salvei mais uma vida.

Ana Cristina Gehring também mantém perfis nas redes sociais, como Instagram e Facebook, cujo o objetivo é ajudar mais mulheres a se descobrirem e a entenderem o que acontece com o seus corpos em uma determinada fase da vida, permitindo que elas vivam sua sexualidade de forma mais plena e realizada.  

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