25/11/2018

Idosas têm dia de beleza em lar de acolhimento

Aos 85 anos, Poppi vai logo avisando que a forma como é conhecida não é um apelido. "Era o sobrenome do meu marido húngaro", diz Luiza Mendes Poppi, uma das idosas mais animadas com a chegada do cabeleireiro Claudio Germano ao Lar Batuíra, onde ela vive com outras 18 senhoras e um senhor. Todo mundo ali não tem ninguém no mundo. Pelo menos, ninguém disposto a cuidar deles.  

Germano resolveu doar seu tempo para, a cada dois meses, usar suas habilidades para tratar as moradoras da casa como princesas. Elas pintam, cortam e escovam os cabelos, fazem as unhas e vivenciam momentos de resgate de uma auto-estima esquecida. O resultado é um trabalho comovente, que não deixa ninguém imune


Plataforma facilita 'match' entre voluntários e instituições

 

Claudio Germano lembra que foi apresentado à casa por uma amiga e, para se certificar de que o trabalho ali era sério, fez várias visitas inesperadas. 

— Eu queria muito fazer um trabalho voluntário com pessoas de idade e vinha sem avisar, para ter certeza de que era aqui que iria ficar. Elas estavam sempre arrumadas, banho tomado, a casa limpa... e já faz seis anos que venho cuidar delas. A gente passa a valorizar muito mais a vida 

Germano costuma convidar outros profissionais para colaborar com o dia de princesa das moradoras do Lar Batuíra, na Zona Leste de São Paulo. E garante: todo mundo que vai, sai diferente do que chegou. 

Ronnie Cardoso, que trabalha com Germano em seu estúdio, diz que é gratificante participar. 

— É uma coisa tão simples e é tão importante para elas. É a chance de a gente fazer a diferença, e sempre me coloco no lugar delas. Como vai ser quando eu envelhecer? 

João Siqueira da Silva, que também é cabeleireiro e amigo de Germano, sempre faz o que pode para estar presente. 

— Estar aqui é estar diante do futuro que chegará para todos nós. E é muito bom ter quem possa te ajudar. A gente doa um tempo, mas o retorno não tem preço

Cantora de blues, Bee Scott foi pintar as unhas das idosas e diz que sempre que dá ela participa do trabalho voluntário. 

— Todo mundo aqui tem uma história... 

"Ele faz milagre", brinca Teresa Rosa, de 90 anos, ao falar sobre o trabalho de Germano. 

— Me sinto uma Cinderela 

Lúcida, Teresa é dona de uma elegância natural. Além de vaidosa, ela também é uma leitora voraz e Germano sempre que possível leva livros para a moradora 

O dia de beleza transforma não apenas o visual das idosas, mas muda o astral de todas elas 

Teresa Rosa, além de Cinderela, se sentiu o máximo vivendo seu dia de modelo 

A gratidão delas é vista em cada gesto, cada abraço e cada olhar 

Domenica Trevisan, enfermeira chefe que está há 13 anos no Lar Batuíra, diz que o trabalho de Germano e seus amigos é mais constante. 

— Às vezes algumas empresas fazem ações pontuais com as idosas, mas só uma, duas vezes por ano. 

Ela conta que para viver na casa, as idosas passam por uma triagem. E um dos requisitos é não ter ninguém que olhe por elas. 

— Algumas têm irmãos, mas que também já são idosos e não conseguem cuidar, ou sobrinhos, que não têm essa disponibilidade. Aqui elas têm qualidade de vida 

O dia de beleza, avalia Domenica, é uma alegria só. As moradoras são muito vaidosas, e ficam ansiosas para a chegada de Germano 

Germano também consegue com suas clientes várias doações para levar para as idosas. Desta vez, levou colares, brincos e pulseiras, para delírio das moradoras 

Ana Maria de Araújo, a Aninha, de 63 anos, era uma das que não viam a hora da visita de Germano chegar. "Ela queria muito pintar os cabelos", entrega Domenica 

Segundo Damaris Marin Ramos, diretora responsável pelo lar, a faixa etária das moradoras vai de 63, idade da Aninha, a 93 anos. Hoje, estão morando no Batuíra 19 mulheres e um homem. 

— Nossa capacidade é para 30 pessoas, mas há uma triagem. Não podem ter filhos em condição de cuidar delas, nem de pagar uma clínica particular. Há uma visita e uma avaliação médica. Dependendo da doença, não podemos receber 

Lúcidas ou nem tanto, as moradoras todas vibram com a chance de serem cuidadas pelos voluntários da beleza 

A felicidade delas é também de Germano. 

— A única coisa nossa mesmo é nosso tempo. As pessoas precisam de amor, de atenção... é muito bom usar nosso tempo para ajudar. Todas as pessoas que vêm comigo saem transformadas, principalmente aquelas que reclamam muito da vida

0 comentários:

Enviar um comentário