Por Marcio Bueno
As empresas, impulsionadas pelo glamour da digitalização, pressionadas pela indústria tecnológica e pela obrigatoriedade do crescimento ilimitado, e porque não dizer, para satisfazer o ego e querer ser Tony Stark por um dia, acreditaram ou fingiram acreditar que o processo de transformação digital se trata de tecnologia.
A indústria da tecnologia, fabricantes, consultores e integradores dizem que transformação digital é o processo pelo qual as empresas fazem uso da tecnologia digital para reduzir custos, melhorar a produtividade, competitividade, rentabilidade e aumentar o alcance de suas atividades.
Algumas empresas acrescentam que o processo de transformação digital exige mudanças fundamentais de tecnologia, cultura, operações e até o desgastado e quase sempre mal aplicado conceito de entrega de valor.
A primeira é uma visão acadêmica e simplista, a segunda, está tão recheada de boas intenções quanto vazia de conteúdo, já que as empresas de tecnologia pregam algo que não entregam (e não podem entregar porque não é sua função).
Vamos nos concentrar na primeira definição e analisar algumas lacunas que consideramos importantes.
Considerar somente tecnologia digital e ignorar as tecnologias analógicas é um erro grave. Existem muitas tecnologias analógicas que vão impactar muitos setores, empresas, negócios e pessoas.
Considerar que a tecnologia é o centro deste processo de transformação é ingênuo. Tudo começa e termina no ser-humano, sempre. A tecnologia é meio e não um fim, e como tal deve ser considerada.
Outro erro: concentrar-se na tecnologia e não em seu impacto. As oportunidades e as ameaças de um processo de transformação digital não estão na tecnologia em si, mas em seu impacto.
Ignorar que o concorrente de uma empresa, há muito tempo, não é outra empresa igual a ela. A Apple lançou cartão de crédito e vai concorrer com os bancos, os bancos estão lançando coworking, empresas de delivery estão fazendo saques de dinheiro a domicílio, assim como dezenas de exemplos.
Considerar, em um mundo líquido, que o core business das empresas é fixo e imutável é assinar a sentença de morte.
Não ser consciente do impacto que a transformação digital da empresa gera na sociedade (transformação digital ativa) e pior ainda, não ser consciente de como o impacto gerado pela transformação digital dos outros (transformação digital passiva) afeta a empresa.
O conceito de transformação digital ativa e passiva foi criado pela BE&SK recentemente e ainda não há um estudo sobre seu impacto, porém se eu tivesse que arriscar uma porcentagem, acredito que podemos aplicar o princípio de Pareto, ou seja, 20% se refere ao impacto da transformação digital que a empresa faz e 80% ao impacto que ela recebe pela transformação digital de outros.
Os 20% já são baixos, porém, ao deixar as tecnologias analógicas e as pessoas (cultura organizacional) de fora, reduzimos ainda mais a área de atuação.
Desta forma, é impossível que o processo de transformação digital funcione e atenda às necessidades da empresa.
Porém, quando colocamos as pessoas no centro e aplicamos uma metodologia que cobre todas estas lacunas, quase sempre somos levados a uma transformação de produto, serviço, modelo de negócio ou até da empresa em si.
Então a empresa passa para um segundo estágio, reinventar-se, e este processo pode até significar matar o negócio atual e criar outro.
Mas a pergunta que surge é: os empresários estão preparados para matar seus próprios negócios para criar outros?
Tudo bem, essa seria uma situação extrema, mas vamos supor que não seja necessária uma transformação tão radical a ponto de matar o negócio e basta com transformar o modelo de negócio, os modelos de gestão e ferramentas de análise e planejamento tradicionais que já não são atendam a realidade atual.
O modelo de capitalismo tradicional, baseado no conceito de que o único objetivo de uma empresa é gerar lucro para o acionista e o resto é função do estado, já não funciona.
Acredito que ninguém está satisfeito com o modelo de sociedade que construímos e, ao menos no meu caso, não é a sociedade que eu quero deixar para os meus filhos.
Para isso precisamos transformar as empresas em organizações rentáveis e humanizadas baseadas em conceitos de capitalismo consciente e sistema de gestão de triple bottom line, ou seja, que mede o impacto financeiro, impacto social e o impacto no meio ambiente do negócio. Por favor, não pensem que isso pode ser substituído por certificações ISO, Six Sigma, etc. Estamos falando de algo muito mais real, profundo e efetivo.
Para ter uma empresa humanizada, é preciso trabalhar diferentes direcionadores de negócio, como propósito, humanização e cultura organizacional (nada mais e nada menos).
Os processos de transformação digital que funcionaram trabalharam o mindset das pessoas, definição de propósito, provocaram uma mudança comportamental e de cultura da empresa, mudaram o modelo de negócio e aplicaram a tecnologia para viabilizar tudo isso.
É essa transformação no sistema, como um todo, que a Tecno-Humanização das organizações propõe. Estamos falando de um framework, de uma metodologia que abrange Technology, Business & Mindset Transformation, unindo tecnologia e pessoas para transformar empresas em organizações rentáveis e conscientes.
Marcio Bueno é Tecno-Humanista, fundador da BE&SK (www.bensk.net) e criador da Tecno-Humanização
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