O processo de transformação digital que estamos vivendo, tanto no mundo corporativo como no pessoal, é inegável e contínuo. Existem, fundamentalmente, duas aproximações sobre este processo no mercado. Os fabricantes e integradores de tecnologia, que colocam a tecnologia como única via de salvação das empresas. O caminho é usar mais e mais tecnologia para reduzir custo, aumentar a assertividade e a produtividade, melhorar a experiência do cliente, e por aí vai.
Outro ponto de vista são os futuristas, aquelas pessoas que dizem como vai ser o mundo em 2050. Com este segundo grupo sou bastante crítico porque, independentemente do que diga, se é certo ou não, se faz sentido ou não, eles nunca dizem o mais importante, como levar sua empresa ao cenário que eles vislumbram.
Portanto, por um lado temos um vendedor de tecnologia vendendo o seu peixe e advogando em causa própria, e outro, que também se baseia somente em tecnologia e que pode falar o que quiser, porque ninguém vai pedir satisfação dentro de 30 anos se suas previsões não se cumprirem.
Sinceramente me aterroriza pensar que é neste cenário que estamos construindo um dos pilares mais importantes do processo de transformação que estamos vivendo.
Pensar que somente a tecnologia vai resolver todos os problemas das empresas e da humanidade é o nosso maior problema.
Para começar a discussão, a transformação digital não acontece no datacenter, ela ocorre na sociedade, nas pessoas e no negócio.
Concentrar-se na tecnologia é ignorar todo o resto, por isso os estudos mostram que mais de 70% dos processos de transformações digital não funcionam.
Podemos substituir o homem pela tecnologia em atividades repetitivas, mas está muito longe de substituirmos a criatividade e a sensibilidade humanas. Provavelmente este estágio nunca chegue (ao menos eu torço, espero e trabalho para que não).
Um produto pode ser produzido por robô, mas será consumido por um humano.
A dinâmica perversa da otimização e melhoria contínua levada ao extremo pela pressão do crescimento ilimitado, o alto grau de tecnologia existente a um custo cada vez menor, podem levar (e estão levando) as empresas à síndrome de Lesch-Nyhan (autocanibalismo).
A falta de consciência, a ganância ou ambas, poderiam nos levar a modelos de negócio onde aplicamos a tecnologia ao extremo, por exemplo, hoje em dia já temos fábricas totalmente autônomas. Mas se todas as empresas fizessem isso, em um espaço curto de tempo teríamos as empresas mais otimizadas do cemitério.
As empresas (e as pessoas) morreriam de inanição, as primeiras por não terem clientes e as segundas por não terem trabalho.
Produtos produzidos por robôs não são consumidos por robôs.
Se o empresário não quiser pensar no ser humano como tal, ao menos que pense como cliente.
A dicotomia de gestão que temos é que a imensa maioria das empresas sem tecnologia, direta ou indireta, não seria capaz de inovar, ser competitiva e, portanto, sobreviver.
Porém, se não considerarmos as pessoas nesta equação geraríamos um problema social de tal magnitude que o menor problema que teríamos seria que a empresa quebrasse.
Os líderes das maiores empresas do Vale do Silício e as maiores fortunas do planeta estão discutindo e buscando alternativas para manter de “estabilidade” sócia, onde o estado garanta a renda mínima universal para que o modelo social-econômico atual não se desmorone e tenhamos um cataclismo social global.
Devemos esperar que o estado resolva esta situação tão extrema e crítica? Eu não quero gerar um caos e esperar que outros, que se mostraram incompetentes em situações conhecidas e mais simples, resolvam o meu futuro e o dos meus filhos. Serei eu a fazer esta transformação.
Como? Onde está o equilíbrio? É possível unir tecnologia e pessoas nesta nova economia? Para a nossa tranquilidade (teórica) a resposta é sim. Digo teórica porque isso não acontecerá de forma automática nem espontânea.
Precisaremos mudar nossa visão e forma de atuar com relação à transformação digital e buscar uma jornada onde se use a tecnologia para gerar abundância. Aplicar a tecnologia para criar modelos de negócios rentáveis e conscientes. E sem dúvida, para que ambas transformações, a digital e a de negócios, sejam autênticas e sustentáveis ao longo do tempo, será necessário trabalharmos a transformação de mentalidade, ou seja, mindset.
Vejam onde chegamos, para fazer uma transformação digital precisamos tratar de forma integrada e sistêmica a transformação digital, de negócios e de mentalidade.
Complexo? Talvez, porém tão complexo quanto necessário.
Para que esta realidade exposta não seja apenas um discurso recheado de boas intenções, é necessário usar uma metodologia, ferramentas e modelos. A Tecno-Humanização das organizações é um framework de Technology, Business & Mindset Transformation, que une tecnologia e pessoas para transformar empresas em organizações rentáveis e conscientes.
Marcio Bueno é Tecno-Humanista, fundador da BE&SK (www.bensk.net) e criador da Tecno-Humanização.
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