Uma iniciativa que tem se popularizado, na internet, entre entusiastas da impressão 3D é a de usar a ferramenta para produzir máscaras e outros equipamentos de segurança para profissionais da saúde.
Com uma comunidade colaborativa forte e muito ativa, os projetos vem pipocando nas redes sociais e movimentando milhares de entusiastas de todo o país.
Maria Elizete, professora de engenharia biomédica na Unifesp e coordenadora do Projeto Hígia, conta que seu grupo já possui mais de 1400 voluntários, em todo o Brasil, imprimindo protetores faciais:
"A ideia foi pegar um modelo que existia na internet e ir aprimorando ele. Durante 4 dias, com o auxílio de um médico do Hospital São Paulo, nós fomos desenvolvendo protótipos, até desenvolvermos um dispositivo que fosse seguro para o uso, confortável, fácil e rápido de produzir, fácil de esterelizar e simples, para que não interfira na rotina do hospital".
Para Daniel Huamani, diretor de tecnologia da 3DCRIAR, como não há dispositivos homologados, os entusiastas dependem "de análises técnicas de engenheiros e médicos, conjuntamente, para validar soluções apresentadas", segundo ele não se pode sair imprimindo qualquer coisa que pareça funcionar.
A principal preocupação de Huamani é com o uso de impressoras que utilizam o aquecimento de filamentos como base para construção de dispositivos mais complexos e vitais, já que este tipo de impressão, por natureza, deixa poros e espaços entre camadas que se tornam "pontos de acúmulos de umidade, bactérias, vírus, poeira e todo o resto".
Para este tipo de construção, além de um projeto muito mais detalhado, estudado e testado, ele considera as impressoras de resina como mais adequadas (veja imagem abaixo para comparação). Mas ainda assim salienta:
"A produção de dispositivos que serão utilizados por pessoas já em estágio frágil de saúde, vulneráveis, devem ser extremamente bem controlada. É impossível produzir este tipo de peça em um ambiente não limpo".
Mas, segundo Danilo, sua intenção não é de que a comunidade 3D desista de ajudar, mas que "ajude com responsabilidade dentro das limitações que existem".
Para Maria Elizete, o foco continua sendo a produção do maior número possível dos protetores faciais projetados em conjunto com médicos:
"Nós estamos numa situação de calamidade, a própria Anvisa liberou uma portaria que, durante 180 dias, é possível implementar o uso de dispositivos feitos especificamente para defender a população, neste período. Se este dispositivo vai ser utilizado no hospital ou não, cabe ao próprio hospital, que normalmente tem uma pessoa responsável, autorizar ou não".
Segundo ela, somente o grupo sob sua coordenação, em São José dos Campos, interior paulista, produz, diariamente, 150 destes protetores, que são distribuídos para hospitais da região.
A distribuição é um dos principais problemas encontrados pelos entusiastas, como comenta Danilo:
"O pessoal fica imprimindo só pra tirar foto e colocar no Facebook. Aí fica com um monte de máscaras abertas, pegando pó. O acesso a hospitais é muito mais difícil do que possa parecer".
Por conta disso, grupos como o de Maria Elizete são tão importantes. Para ela, o problema, agora, torna-se os insumos necessários para a produção, que chegam através de doações.
Para aqueles que possuem uma impressora 3D e desejam contribuir com o projeto, basta clicar aqui.
Abaixo, você confere os cuidados e recomendações para contribuir:
— Antes de fabricar qualquer EPI, limpe as superfícies da impressora e do local de trabalho com álcool 70 volumes;
— Durante a fabricação, aja como se estivesse contagiado com COVID-19: utilize máscaras e um par de luvas nitrílicas a cada bandeja de impressão. Armazene as peças imediatamente em uma embalagem selada;
— Quando enviar as peças, para quem quer que seja, especifique o ambiente de trabalho e as condições de impressão, juntamente com o estado de saúde de todas as pessoas envolvidas na fabricação do dispositivo;
— Após a impressão, lave as peças com água e sabão. Álcool também pode ser utilizado;
— Não armazene toda a produção dentro de uma única embalagem. Em caso de contágio, há o risco de proliferação.
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