“Esse é um dos assuntos que mais tenho tratado na terapia: tenho sonhado o tempo todo com hospitais.” O relato do advogado Paulo Machado, de 34 anos, faz parte das reações à quarentena mais comentadas. Seja sobre sonhos malucos, insônia ou mudança no horário de descanso, relatos sobre a alteração da qualidade do sono tem se tornado cada vez mais comuns.
Coronavírus: como a pandemia e o isolamento afetam nosso sono
“Cada pessoa reage de uma forma”, explica Gustavo Moreira, médico pesquisador do Instituto do Sono. “Algumas pessoas negam o perigo, outras ficam amedrontadas e se enclausuram, outras aproveitam a mudança para repensar planos de vida. Neste cenário de emoções, há uma predisposição para o aparecimento de sonhos, pesadelos e despertares noturnos frequentes.”
“Me sinto em risco”, conta Camila Barros, de 28 anos. Apesar de se exercitar diariamente e manter uma rotina de sono, a advogada relata o aumento de pesadelos durante a quarentena. Um de seus sonhos mais marcantes, segundo seu relato, não tinha a pandemia como tema, mas era ameaçada por homens desconhecidos. Segundo o neurologista Fábio Porto, “não é incomum que as pessoas tenham sonhos de conteúdo de luta. Uma das áreas mais ativas durante o sono é a que processa o conteúdo aversivo”.
Para o neurologista, uma das hipóteses é de que o aumento de sonhos agitados esteja diretamente relacionado com o consumo excessivo de informações durante a pandemia. “ Quando você sonha, está processando informações. É como se colocasse um tijolinho no seu muro de conhecimento. Instintivamente, alguns insights vão acontecer.”
Um estudo psiquiátrico realizado durante o surto de covid-19 na China mostrou um registro significativo de sintomas de ansiedade, depressão e queda na qualidade do sono entre jovens, idosos e profissionais da saúde.
“A prevalência geral de TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizado), sintomas depressivos e qualidade do sono do público foram de 25,1%, 20,1% e 18,2%, respectivamente” Segundo o artigo publicado na revista Nature Science of Sleep, profissionais de saúde eram mais propensos a ter má qualidade do sono em comparação com outros grupos ocupacionais.
Segundo o neurologista Fábio Porto e o médico pesquisador Gustavo Moreira, a função dos sonhos ainda é desconhecida.
“ Psicanalistas acreditam que é uma manifestação do subconsciente, sua interpretação, dependendo do contexto de cada pessoa”, explica Moreira.
O registro de informações pelo cérebro ocorre na fase REM do sono. Segundo Fábio Porto, é geralmente o momento em que o sonho acontece. “O sono REM acontece em círculos de mais ou menos uma hora e meia. Sempre que você dorme mais, aumenta a chance de ter sonhos nesta fase.”
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