O empresário Elon Musk está tentando arquivar o processo de difamação aberto contra ele pelo mergulhador britânico Vern Unsworth, que participou da operação de resgate de 12 meninos presos numa caverna da Tailândia no último mês de julho.
O executivo, que é CEO da empresa de exploração espacial SpaceX e da montadora de carros elétricos Tesla, alega que as acusações "exageradas" de pedofilia, publicadas por ele contra Unsworth no Twitter, não devem ser levadas a sério.
Na época do resgate, os dois divergiram sobre como retirar os jovens da caverna em uma troca de farpas que levou o empreendedor a chamar Unsworth de "pedófilo" - e, posteriormente, de "estuprador de crianças" - sem apresentar provas.
Os advogados de Musk afirmam que o "insulto" foi feito em resposta a comentários depreciativos do próprio mergulhador.
Unsworth é de Hertfordshire, um condado da Inglaterra, mas vive hoje perto de Chiang Rai, na Tailândia.
A troca de ofensas entre Musk e Unsworth ocorreu em julho de 2018 durante as tentativas desesperadas de resgatar os 12 meninos e seu treinador de dentro de uma caverna parcialmente inundada.
Unsworth ajudou a recrutar mergulhadores britânicos experientes, que foram fundamentais na libertação dos jovens.
Musk mobilizou, por sua vez, um grupo de engenheiros da Tesla para ajudar na operação de resgate e ofereceu um minissubmarino especialmente projetado para ajudar a transportar as crianças para fora da caverna - mas que não chegou a ser usado.
Em entrevista à rede americana CNN, Unsworth ridicularizou o minissubmarino, dizendo que era um "golpe publicitário (que) não tinha nenhuma chance de funcionar" no resgate.
Também disse para Musk "enfiar o minissubmarino onde dói".
Ao responder em uma série de tuítes, Musk deu mais detalhes sobre como o minissubmarino poderia funcionar e postou a acusação de pedofilia.
Questionado sobre as alegações de Musk, Unsworth disse que estava cogitando entrar com uma ação judicial.
Logo depois, Musk pediu desculpas e apagou os tuítes ofensivos, dizendo que havia agido "com raiva".
"As ações dele contra mim não justificam minhas ações contra ele e, por isso, peço desculpas."
Mas a discussão se intensificou depois que Musk fez referência ao insulto inicial em outra troca de mensagens no Twitter.
Ele disse achar "estranho" não ter sido processado pelo mergulhador por conta das acusações, apesar de terem oferecido a ele assistência jurídica gratuita.
Logo depois, os advogados de Unsworth postaram uma série de tuítes criticando a atitude de Musk.
E, em entrevista por e-mail ao site BuzzFeed, quando questionado sobre a ameaça de processo, o empresário afirmou: "Ligue para quem você conhecer na Tailândia, descubra a verdade e pare de defender estupradores de crianças".
O conteúdo do e-mail, que seria "extraoficial", foi divulgado e levou à abertura do processo de difamação em um tribunal da Califórnia.
Musk quer que a corte rejeite a denúncia porque, segundo seus advogados, os comentários dele foram uma "opinião que não está sujeita a ação judicial".
A equipe jurídica alega que o empresário não conhece Unsworth, então seus comentários não teriam "base factual".
Em vez disso, as palavras dele teriam sido "insultos exagerados não motivados por conhecimento de causa".
Os advogados de Musk argumentam que, como a "briga de pátio de escola" aconteceu no Twitter, que eles dizem ser "infame por injúrias e hipérboles", ninguém poderia acreditar que os comentários fossem verdadeiros.
O fato de ser nas redes sociais serviu para ressaltar o quão diferentes são de uma exposição na imprensa ou uma queixa criminal, acrescentaram os advogados.
Unsworth e os advogados não responderam aos pedidos de comentários da BBC.
De acordo com o jornalista Clive Coleman, correspondente legal da BBC, a primeira emenda da Constituição dos Estados Unidos, que protege a liberdade de expressão, torna a difamação uma ação legal desafiadora a ser levada adiante.
O autor do processo tem que provar que a declaração feita a respeito dele é falsa e lhe causou danos materiais.
Mas o principal obstáculo é que, se a pessoa que apresenta o caso é considerada uma figura pública - e há uma interpretação bastante ampla para "figura pública" -, é preciso provar que o acusado agiu de forma maliciosa.
"Em outras palavras, que o autor do comentário sabia que era falso e fez mesmo assim."
"Para isso, é preciso provar que o acusado mentiu conscientemente com a intenção de prejudicar o autor da ação", acrescentou.
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