Quando Tim Burton lançou Alice no País das Maravilhas em 2010, ninguém imaginou que remakes live-action de animações da Disney tornariam-se uma tendência do estúdio. Há uma parcela de rejeição por parte dos fãs dos clássicos, que questionam a necessidade dessas readaptações. Como alguém que cresceu assistindo (e ainda assiste) às animações da Disney, ainda fico com um pé atrás diante das ideias, ao mesmo tempo que a curiosidade de ver o resultado também existe. Os lançamentos de Cinderela (2015), Mogli: O Menino Lobo (2016) e A Bela e a Fera (2017) revelaram adaptações que encontram maneiras inéditas de recontar histórias icônicas, mas que não fariam falta caso não existissem -- o mesmo não pode ser dito das animações, é claro.
A tendência se repete com Dumbo, novo remake live-action da Disney que chega aos cinemas brasileiros em 28 de março. Tim Burton retorna para assumir a direção, ao lado do roteirista Ehren Kruger, para recontar a história do elefantinho de Circo que protagonizou a animação de 1941. Desajustados são mais do que familiares nas obras de Burton, mas o diretor optou em trazer um tom mais otimista para retratar a jornada do fofíssimo Dumbo. Além de prestar homenagens nostálgicas, a adaptação aposta em trazer humanos aos holofotes. Uma mudança ousada e com algumas falhas, mas que acaba proporcionando uma nova visão para a jornada que já conhecemos.
No filme, Max Medici (Danny DeVito) é dono do Circo dos Irmãos Medici, que decide comprar a elefante e grávida Sra. Jumbo. Logo que nasce, Dumbo é zombado por suas orelhas grandes e, eventualmente, acaba sendo separado da mãe. Até aqui, a jornada de Dumbo é bem semelhante com a da animação, mas ele descobre sua habilidade de voar logo no começo. O animal acaba ficando em segundo plano em vários momentos, já que o filme traz a família Farrier como protagonistas. Holt (Colin Ferrell) e seus filhos Milly (Nico Parker) e Joe (Finley Hobbins) são os responsáveis pelos cuidados e treinamento de Dumbo.
O elenco também conta com Michael Keaton como o antagonista V.A. Vandevere, que é o esteriótipo do homem rico que está sempre em busca de mais dinheiro, e Eva Green como a encantadora artista de circo Colette Marchant. Há uma tentativa em construir uma grande e carismática família com os membros do circo, mas não há muita química entre os personagens ou qualquer personalidade marcante. Há algumas exceções notáveis, no entanto: a simpatia de Danny DeVito como o dono do circo é inevitável, enquanto a jovem atriz Nico Parker brilha como a inteligente e determinada Milly. Já Eva Green revela-se cativante como Colette, que apresenta-se ao lado do elefante voador.
Dumbo, por sua vez, é obviamente o coração e a melhor parte do filme. Alguns podem achar o visual computadorizado do pequeno elefante assustador, mas eu realmente achei adorável, além dos barulhinhos que ele faz com a tromba. Entre tanta fofura, há também muita pena e compaixão pela situação em que Dumbo está -- é de partir o coração vê-lo procurando pela mãe. Claro que o filme investe nesses sentimentos, não esperava menos. O único problema é que a história tenta criar uma personalidade corajosa para o elefante, mas o momento heroico do paquiderme no terceiro ato é pouco convincente ou emocionante, afinal ele é só um filhote em busca da mãe. O mesmo acontece com a relação entre os Farrier e Dumbo, já que raramente senti uma conexão entre os personagens. Por sinal, a discussão sobre animais em cativeiro é sutilmente explorada pela Disney. Embora o desfecho final seja uma mudança muito positiva em relação a animação, fiquei decepcionada em ver o tema ser pouco explorado no restante do filme.
A história, no geral, tem um ritmo equilibrado e bem amarrado. Há poucas piadas e o foco nos humanos pode afastar o público infantil, já que a presença de Dumbo não é assim tão constante. A emoção do filme não vai muito além por conta dos personagens superficiais e acaba funcionando com Dumbo e Sra. Jumbo, simplesmente porque são dois animais capturados e inocentes que estão sofrendo por culpa dos humanos. Fiquei muito satisfeita com a maneira em que algumas cenas da animação foram recriadas, incluindo a apresentação de Dumbo com os palhaços no prédio incendiado e o desfile dos elefantes rosas. A recriação da cena psicodélica traz paquidermes como bolhas de sabão e, embora seja um pouco desconexa ao restante do filme, não imagino uma maneira melhor de colocá-la no live-action -- e excluí-la certamente não é uma opção. A trilha sonora também acerta ao incluir melodias da animação original em músicas inéditas. Confesso que me emocionei ao ouvir o tema do trem no começo do filme e "Baby Mine" choro só de lembrar.
Por fim, a identidade visual icônica de Burton ainda pode ser encontrada na fotografia e figurino, bem como em outros detalhes espalhados pelo filme -- preciso mencionar as roupinhas que Dumbo usa, além da maquiagem de palhaço, que foram muito bem adaptadas para a versão live-action. A estética do filme ainda proporciona cenários e momentos deslumbrantes, como as performances do circo e, principalmente, das apresentações de Colette. Você pode até estar cansado de Burton, mas não há dúvidas que o cineasta conseguiu encontrar um equilíbrio entre a figura adorável de Dumbo, as peculiaridades dos artistas e a magia do circo.
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